Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 9ª edição | Page 11

LiteraLivre n º 9 – Maio / Jun de 2018
Clélia Jane Dutra Contagem / MG

“ A Casa Caiu”

“ A casa caiu” é uma expressão que pode ser usada por grupos delinquentes para se referirem a uma operação que falhou e a polícia desarticulou a quadrilha. Mas, na história abaixo, essa expressão tem outro significado.
Estava, hoje à tarde, janeiro, férias,“ navegando na Internet”. Lembrei-me de um desejo antigo meu. Há trinta anos mudei-me da Avenida Amazonas, 8286. Ali, entre os bairros Vila Oeste e Cabana. Desde então, quis retornar àquela casa. O computador foi a solução.
Meu pai, que também é conhecido pelas expressões:“ Pau-para-toda-obra”,“ Não espero para trabalhar, vou esperar para comer?”,“ Quem vai à frente bebe água limpa”, foi morar nesse local com a família ainda em formação. Trabalhador incansável fez um“ pé-de-meia”, comprou uma pequena casa com varanda, dando fundos para o Córrego Tijuca e com um vasto quintal de árvores frutíferas com a frente para a Avenida Amazonas. Na ocasião a família era composta por minha mãe( olhos azuis e muito bonita com os cabelos cacheados) e os quatro filhos: Kleber, Clério, Lúcia e Tânia. Todos com espaço para brincar, brigar, correr, com joelhos ralados, recebendo doses diárias de xingos e carinhos.
Mamãe raramente perdia a paciência. Claro, às vezes, gritava e distribuía uns beliscões torcidos que doíam para valer. Boa“ parideira”, não permitiu que a família, já numerosa, parasse por aí. Graças a Deus. Sendo assim, após três anos, na nova casa, vim ao mundo.
Portanto, a casa dos fundos da Amazonas foi a primeira em que morei. Ela está registrada na minha memória. Lembro-me do quintal dos fundos, onde, o pintinho trocado por garrafas vazias em um caminhão, cresceu. Como ele foi para lá bem pequeno, dormia à noite em uma caixa de papelão, aquecida por uma lâmpada incandescente e era alimentado por nossas mãos com canjiquinha. Tornou-se um galo forte e ranzinza, que corria atrás de qualquer um, simplesmente pelo prazer de cravar seu bico. Um dia, ele foi vítima das flechas do meu irmão Kleber, feitas com barbatanas de sombrinhas velhas. O galo 6