Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 8ª edição | 页面 20

LiteraLivre nº 8 – Mar/Abr de 2018 No dia em questão ele e os amigos brincaram como nunca. Apenas pararam perto de jantar, mas a brincadeira não acabou por conta do horário, terminou por eles perderem a bola. Em um chute forte que tinha como combustível a alegria infantil o brinquedo que era a principal estrela do jogo se perdeu em um terreno que não tinham coragem para entrar... Mesmo com a perda da bola aquele momento teve um significado especial porque ele estudava na cidade grande. Voltava para a pequena vila somente nas férias escolares e aquele era o último dia antes das aulas voltarem. Naquele dia ele não sabia, mas aquele último dia de brincadeira foi como uma despedida. Na sua mente infantil pensava que nas próximas férias escolares voltaria e ele e os amigos jogariam bola como sempre faziam, porém ao voltar tudo estava diferente. Ele estava diferente. Novos caminhos haviam se formado na vida de todos. O tempo não para... Foi fácil notar que a infância ficou para trás junto com o brinquedo esquecido. Tentou afastar essas lembranças da sua mente, porém a imagem do brinquedo continuava muito viva. Assim como a imagem da versão jovem dele. Durante todo o dia apenas se arrastou perdido em seus pensamentos. Ao seu redor os outros idosos se animavam com a proximidade do natal. O asilo receberia muitas visitas de voluntários que trariam inúmeros presentes. Sendo que o principal presente seria a simples presença dele.Era tradição cada idoso escrever o que gostaria que os voluntários trouxessem de presente... Foi quando a idéia surgiu. Escreveu seu simples pedido rapidamente. Seus olhos brilharam ao receber o brinquedo que veio cuidadosamente embrulhado. Os voluntários ficaram muito surpresos. Nunca viram alguém tão feliz com um presente tão simples: uma bola de plástico. Não entendiam que para o idoso foi como um reencontro com a infância. Eles não entendiam a complexidade das lembranças. 15