Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - 6ª edição | Page 97

LiteraLivre nº 6 – novembro de 2017 primeiras lições, convida-o para almoçar um churrasco grego, lhe presenteia com um CD de percussão, propõe a Walter tocarem juntos numa estação do metrô e dividirem os lucros, pede a ele que não se esqueça dele na prisão; Mouna pede a Zainab que a leve a lugares onde ela e Tarek gostavam de ir; Walter arrasta pelas ruas o carrinho com as bijuterias de Zainab para que ela possa conversar mais livremente com Mouna. É com muita animação que Zainab mostra para Mouna a Ilha de Manhattan, o lugar das Torres Gêmeas, a estátua da Liberdade. Mouna se interessa pelo trabalho de Walter, faz-lhe perguntas sobre o evento e mesmo longe, já em Connecticut, Walter telefona para Mouna para se inteirar se tudo vai bem. Pequenos e grandes gestos de cortesia, atenção e afeto a demonstrar que os jogos da proxemia se organizam como nebulosas policentradas que ora aproximam ora distanciam, num ritual que, com toda a dinâmica da difratação, constrói um território simbólico de pertencimento.Walter propõe sair com Mouna, quer fazer-lhe uma surpresa – levá-la para ver o “Fantasma da Ópera”, que ela tanto se interessa. A partir daí a ritualística entre eles já se põe como uma aproximação romântica, cerimoniosa. No jantar que se segue é interessante notar na confissão de Walter sobre suas pretensas ocupações, quando se desculpa com Mouna pelo embuste e ela lhe pergunta o que faria se não fosse professor. Walter diz não saber e ela reconhece “que é excitante o não saber o que fazer”.Ele, ainda intransitivo, apesar das últimas experiências, se coloca como a porta fechada, sem saída, entre o afeto desejado e a tensão da insegurança. Ela é a ponte que pode ligar o domesticado ao estranho, contida, mas não temerosa. Esta, como tantas outras pequenas tribos, são efêmeras, mas nem por isto deixam de amalgamar um forte investimento afetivo num estado convivial que parece destinado a ser perene. É assim que Walter agora desconstroi o estereótipo de sisudez, licenciado das funções acadêmicas, distante de sua nova “família”, anda mais solto pelas ruas carregando o tambor que toca em Broadway- Lafayette St. 92