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LiteraLivre nº 6 – novembro de 2017
ato de ter que repetir palavras provoca um transtorno sobrenatural!
Paciência é a virtude que consiste em suportar os males e incômodos
sem reclamar, sem se revoltar.
Uso um pequeno dispositivo dentro e atrás da orelha direita e esquerda:
eles emitem sons mais altos para que eu possa ouvir, comunicar e participar
plenamente das atividades diárias. O aparelho auditivo é um simples
amplificador de som e com ele eu ouvia bem; infelizmente chegou um dia que
não servia para mim.
Notei a perda auditiva em 1998. Era secretária e sentia dificuldade para
entender claramente e era necessário aumentar o volume dos fones do
telefone. Deixei de atender telefone e falar pessoalmente com os clientes. O
ar-condicionado ou o ventilador abafava o microfone do aparelho auditivo e
dificultava a compreensão. Trabalhava nesta empresa há 26 anos (desde 1989)
e em 2007 quando o problema se agravou, me senti ignorada, isolada,
abandonada, quase sem serviço. Em minha profissão, dialogar com as pessoas
é imprescindível e ergueram uma barreira diante de mim, quase ninguém tinha
paciência para falar comigo, fugiam de mim. Fingia que havia entendido para
não causar aborrecimentos. Estava começando a sentir dores de cabeça fortes
contínuas e o médico me disse que era nervosismo. Fora do ambiente de
trabalho, dos locais com ar-condicionado ou ventilador e olhando para quem
fala, dá para “ouvir” satisfatoriamente. Porém, faço leitura labial de uma
pessoa de cada vez e em grupo não percebo que há outros participando da
conversa.
Sim, já chorei de tristeza! Mas, tenho senso de humor e quando ocorrem
incompreensões e entendimentos equivocados, digo que sou a velha surda do
antigo programa da televisão “A Praça da Alegria” (2001).
Alcancei o grau mais elevado da perda auditiva que é severa e profunda:
de 100%, ouço 8%. Devido a isso, não há outro aparelho auditivo adequado
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