LiteraLivre n º 6 – novembro de 2017
O Drama da Surdez
Rosimeire Leal da Motta Piredda Villa Velha / ES
O que há de comum entre mim e LUDWIG VAN BEETHOVEN( o maior e o mais influente compositor da música clássica universal)? A inspiração poética que vem do íntimo e é revelada em nossas criações e a SURDEZ. Os primeiros sinais de ensurdecimento surgiram antes que nós completássemos 30 anos, custamos a assumir e foi impossível esconder porque era óbvio. Minha mãe e minha irmã tinham este problema: é hereditário! Se eu tivesse filhos, alguns deles poderiam desenvolver esta deficiência. Gradativamente ia perdendo a minha capacidade de identificar o som e hoje se tornou grave, faço leitura labial. Assisto pouco à televisão( leio as legendas na tela mas, às vezes, são diálogos longos que não dá tempo para ver as cenas e cansa as vistas). Guardei minha coleção de CDs de músicas eruditas( só me resta fechar os olhos e resgatar em minha memória as maravilhosas sinfonias). Em casa escuto sons na rua e penso que é alguém gritando, entretanto ao abrir a janela vejo que são cachorros latindo. Ir a consultas médicas somente com acompanhante. Outros, sabendo que sou surda, quando me encontram preferem falar com a pessoa que está ao meu lado ou me evitam. E ainda há aqueles que torcem os lábios ou reviram os olhos para cima demonstrando seu desgosto ou os que perdem a paciência e encerram a conversa. Muitos não entendem que eu posso compreender ao olhar para os lábios e se atrevem a fazer comentários que jamais teriam coragem de dizer em minha presença, por exemplo: duas senhoras, uma falou para a outra:“ Lá vem à surda!” Ah, agora fiquei invisível: sim, pois muita gente finge que não me vê e passa direto. O
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