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LiteraLivre nº 6 – novembro de 2017
- O beijo do papai!
E ela pulava em meus braços, lascava um beijo na minha testa, nós dois
ali na entrada da escola, atrapalhando os pais que entregam seus filhos e
felizes, como éramos felizes!
E, na hora de buscá-la, era um perigo. Eu, por causa do trabalho,
chegava sempre uns minutos atrasado, quando praticamente todos os pais e
mães já tinham levado suas crianças. Ao ver-me descer do carro, ainda do
outro lado da rua, ela saía correndo e, se eu não ficasse esperto para ser mais
rápido, atravessava a rua sem olhar para lado algum, tudo para receber meu
abraço: “Saudade, papai!”, sorria e pulava em meu colo. E eu era o homem
mais feliz neste mundo!
Impossível segurar as lágrimas. Lembro-me de Toquinho e Vinícius,
Cotidiano nº 2. Às vezes quero crer, mas não consigo, é tudo uma total
insensatez. Sua imagem me aparece nítida: linda, a menina mais linda do
mundo, seus olhos grandes e negros, os cabelos fartos e encaracolados, a
inteligência, seus desenhos maravilhosos e sua preocupação com o meio
ambiente e a raiva contra as injustiças deste mundo. Aí pergunto a Deus:
"Escute, amigo, se foi pra desfazer por que é que fez?" Mas não ouço resposta,
só ouço o eco de minha voz: ... se foi pra desfazer por que é que fez? ... por
que é que fez?
Sete dias se passaram. Fomos à missa, rezamos por ela, pedimos a
proteção de Deus. Ao final, esperamos um pouco, procuramos Padre Paulo no
salão paroquial. “Não fiquem assim”, consolou-nos, com aquela voz mansa, um
abraço acolhedor. A mãe chorou, o irmãozinho estava mais consolado, o
representante de Deus completou: “Eu tenho certeza de que onde ela está ela
está bem!”
“Não adianta vocês ficarem só lamentando, chorando o tempo todo!
Peguem as malas, vão viajar, vocês não iam?”, aconselhou a avó, a que estava
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