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LiteraLivre nº 6 – novembro de 2017 Era muito para o coração de um pobre pai! Reinaldo Fernandes Brumadinho/MG Partiu no dia 18 de janeiro. É engraçada essa vida. A gente sabe que um dia vai acontecer. Mas, mesmo sabendo que ia acontecer, quando aconteceu fiquei baqueado. O primeiro dia foi o mais difícil. Vê-la partir, mesmo com tantos amigos ao lado, naquela hora, foi de cortar o coração. A mãe, do lado, chorando sem parar. O irmãozinho. Quinze anos. Era muito jovem, quase uma criança. Nos seus quinze anos, nunca me separara dela, a vi crescer, dar os primeiros passos, as primeiras palavras, e a fotografei, pela primeira vez, com um Carlos Drummond no colo. Com quatro anos lhe ajudei a escrever seu primeiro texto, para ler na “formatura” do 2º período (ela era do 1º). Lembro-me de quando ela, lá pelos seis anos, entrou numa de ter medo à noite. Pedia sempre para eu lhe inventar estórias, e eu, com inspiração ou sem ela, contava estórias de Lakissa, da professora Ronéria, e mil outras. Aí, no meio de uma estória, me interrompia, e, quase chorando, dizia: “Timento de medo!” Meu coração se cortava, e o melhor que eu podia era dizer: “Vou te contar outra estória: de um cara, eles o chamavam de Jesus. Era o filho de Deus e veio aqui na Terra pra ensinar o amor para as pessoas. Mas os poderosos daquela época, os reis, os políticos, não entenderam o que ele queria, ficaram com medo dele ficar mais poderoso do que os poderosos e mandaram matá-lo. Sabe o que aconteceu, meu anjo?” 57