Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - 6ª edição | Page 33

LiteraLivre nº 6 – novembro de 2017 ― Calma, minha senhora. Só vim lhe entregar o jornal. Certa vez, resolveu visitar a comadre que morava bem distante de sua casa. Para isso deveria ir de trem. Chegando à estação, lotadíssima, não encontrava lugar para se acomodar. Quando o trem parou, entrou numa velocidade tão grande que acabou atravessando o vagão e saindo do outro lado. Não conseguiu entrar de volta. Perdeu o comboio. O próximo vinha tão lotado quanto o primeiro. Assim que ele parou, entrou pressurosamente encontrando no meio do corredor um clarão com bastante espaço. Correu feliz para ocupar o lugar quando tropeçou em várias caixas de papelão e caiu ajoelhada sobre elas. Não tinha mais um vão sequer para se levantar. Ficou ajoelhada sobre as caixas por três estações, até que as caixas foram retiradas pelos proprietários na parada seguinte, e ela conseguiu finalmente ficar em pé. Jocasta não sabia se ria ou se chorava, levantou-se e saiu às pressas. Já na rua, um rapaz murmurou algumas palavras que ela não conseguia compreender, parecia pedir informação. Solicitou que ele repetisse o que dissera e, mesmo assim, não o entendeu. Aproveitou para usar todo seu conhecimento em inglês e proferiu: ― Do you speak English? Ele respondeu, falando com muita dificuldade e gesticulando. Aí ela entendeu. ― Sou surdo. Onde fica o ponto de ônibus? Coitada da Carlota Jocasta. Não dava uma dentro. Certo dia foi a uma sorveteria chique que abrira próximo à sua casa para experimentar das delícias geladas. Foi direto no freezer e pegou um pote bem pequeno de um sorvete cuja marca nunca ouvira falar. Na hora de pagar, achou que o preço era muito desproporcional à quantidade do sorvete e disse: ― Não moça, você errou no preço. Confira. É pote pequeno. Acho que esse seria o preço de dois litros, não? 28