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LiteraLivre nº 6 – novembro de 2017
― Calma, minha senhora. Só vim lhe entregar o jornal.
Certa vez, resolveu visitar a comadre que morava bem distante de sua
casa. Para isso deveria ir de trem. Chegando à estação, lotadíssima, não
encontrava lugar para se acomodar. Quando o trem parou, entrou numa
velocidade tão grande que acabou atravessando o vagão e saindo do outro
lado. Não conseguiu entrar de volta. Perdeu o comboio. O próximo vinha tão
lotado quanto o primeiro. Assim que ele parou, entrou pressurosamente
encontrando no meio do corredor um clarão com bastante espaço. Correu feliz
para ocupar o lugar quando tropeçou em várias caixas de papelão e caiu
ajoelhada sobre elas. Não tinha mais um vão sequer para se levantar. Ficou
ajoelhada sobre as caixas por três estações, até que as caixas foram retiradas
pelos proprietários na parada seguinte, e ela conseguiu finalmente ficar em pé.
Jocasta não sabia se ria ou se chorava, levantou-se e saiu às pressas.
Já na rua, um rapaz murmurou algumas palavras que ela não conseguia
compreender, parecia pedir informação. Solicitou que ele repetisse o que
dissera e, mesmo assim, não o entendeu. Aproveitou para usar todo seu
conhecimento em inglês e proferiu:
― Do you speak English?
Ele respondeu, falando com muita dificuldade e gesticulando. Aí ela
entendeu.
― Sou surdo. Onde fica o ponto de ônibus?
Coitada da Carlota Jocasta. Não dava uma dentro.
Certo dia foi a uma sorveteria chique que abrira próximo à sua casa para
experimentar das delícias geladas. Foi direto no freezer e pegou um pote bem
pequeno de um sorvete cuja marca nunca ouvira falar. Na hora de pagar,
achou que o preço era muito desproporcional à quantidade do sorvete e disse:
― Não moça, você errou no preço. Confira. É pote pequeno. Acho que
esse seria o preço de dois litros, não?
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