Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - 6ª edição | Page 32

LiteraLivre nº 6 – novembro de 2017 jardim e diversas plantas ornamentando-o, o que lhe tomava quase todo o tempo. Para isso, possuía uma ajudante que fazia os serviços domésticos em sua casa três vezes por semana. A jovem era muito prestativa. Estava com Carlota há uns bons dez anos e sabia que a patroa era exigente com a casa e com os bibelôs. Durante esse tempo chegou a quebrar um de seus vasos prediletos, mas continuava na casa. Tinha receio de fazer algo errado e angustiar a senhora. Um dia, no crepúsculo, Carlota, já cansada de cuidar do pátio, deitou-se em seu leito a fim de resfolgar. Após meia hora, acordou ensopada, encharcada dos pés à cabeça. Descobriu que a criada colocara um balde cheio de água sobre a cama da patroa para passar o pano molhado no chão e ele tombara enquanto fazia a limpeza pela manhã daquele dia. Outra ocasião, descendo a escadaria de sua morada para atender ao som da campainha, Carlota correu desesperadamente, pois aguardava a entrega de um embrulho especial. Rolou escada abaixo como se estivesse escorregando num tobogã. Foi parar lá embaixo no primeiro degrau. Levantou-se rapidinho para que ninguém a visse em tal inusitada situação. Abriu a porta e, com um sorriso sem graça, atendeu ao carteiro e recebeu uma entrega. Gostava de varrer a calçada para recolher as folhas caídas das árvores durante a ventania noturna e acabava conversando com um ou outro vizinho. No momento estava sozinha. Um homem com capacete dirigia uma motocicleta e passara por diversas vezes na rua, para lá e para cá. De repente parou e aproximou-se dela. A mulher pensou ser o início de um assalto. Largou a vassoura, levantou mãos e braços e disse: ― Pode levar tudo, só não me machuque ― falou com ar de choro e muito assustada. O rapaz que não conseguia enxergar o número da casa, pois estava escondido atrás de uma folhagem, disse: 27