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LiteraLivre nº 6 – novembro de 2017
As Meias Azuis
Sigridi Borges
São Paulo/SP
Carlota Jocasta e seu esposo viviam juntos há 30 anos. Não possuíam
herdeiros. A vida do casal era de constantes aventuras. Eternos apaixonados.
Não faziam nada de forma individual. Sempre pensavam em conjunto.
Nasceram um para o outro. Havia apenas um ponto em que seus ideais se
chocavam: ele gostava de jogar na loteria e Carlota não aprovava a obsessão
do marido. No mais, combinavam em tudo, eram cúmplices.
Os consortes amavam a natureza e visitavam a praia sempre que
possível. Carlota levava a comida praticamente pronta para que pudesse
desfrutar dos momentos maravilhosos na companhia do querido esposo.
Possuíam uma bela casa no litoral para os momentos inigualáveis de lazer.
― Dessa vez a chuva nos pegou de jeito. O ar condicionado não está
funcionando, nem o desembaçador. Não consigo ver muita coisa com esse
para-brisas embaçado ― disse o esposo.
― Pode deixar. Darei um jeitinho ― afirmou Carlota.
Carlota carregava em seu colo uma assadeira repleta de lasanha semi
pronta com muito molho, quase até a borda, coberta com papel alumínio. Sem
pestanejar, arrancou seu sutiã e, com ele, começou a limpar o para-brisas
equilibrando a assadeira para não sujar o carro de molho. Esfregou, esfregou,
até que o marido pudesse dirigir com segurança.
O cônjuge, acostumado com a maneira de agir da mulher, seguiu
viagem.
Carlota Jocasta era conhecida pelos amigos e parentes como ababelada.
Tudo e mais um pouco acontecia com ela.
Em sua casa na cidade, possuía um belo quintal com um esplendoroso
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