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LiteraLivre nº 6 – novembro de 2017
Sério. Não houve nenhuma galhofa por causa dessa “pérola”, tamanho bola de
canhão, disparada pela minha boca-aberta. Apenas um...
– Pra saber do morto, leia a lápide, criança! – só isso. Pior. É como se até hoje
eu ainda velasse as ditas em algum lugar secreto e sombrio da minha mente.
Juro. Eu realmente não sabia que “Perpétua” queria dizer outra coisa que não o
nome do morto em questão. Nesse caso, da morta. Após o triste episódio,
minha visão de mundo finalmente saíra do chão, o que foi muito bom, pelo que
passei a dar mais atenção às lápides. E não deu outra: virou gosto. Perpétuo,
eu desconfio.
Se para uns, dentre os frequentadores desse lúgubre universo, ir ao cemitério
não é mais que uma penosa tarefa a ser cumprida, para outros, ironicamente,
é o terror, a morte, o fim! Bobagem, uma hora vão e não voltam... Para mim,
além de gosto e culto ao sagrado, visitar os mortos também é cultura. Ler
lápides não só exercita minha gramática, como me põe em dia com a história
local. E mais, de tanto calcular datas a fim de saber a idade exata de cada
defunto, ando detonando na matemática.
Pois bem, por mais estranho que pareça, esse é o meu gosto. E gosto é gosto,
não obstante me intrigue Perpétua... Ainda não encontrei – viva – nenhuma.
Será que estão todas mortas?
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