Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 5ª edição | Page 99

LiteraLivre nº 5 - Setembro de 2017 O Poço Alberto Arecchi Pavia - Itália Um poço no deserto é como uma cova em forma de funil, afundada no chão onde a camada da água chega perto da superfície, e deve ser mantido limpo pelos moradores, para que a areia não chegue a enterrá- lo. Na cova, geralmente cresce pelo menos uma palmeira de tâmaras. É como um sinal, você pode vê-la a distância e ajuda o viajante cansado, sedento, exausto, para encontrar o ponto de água. Também proporciona um alimento rico e completo. Um provérbio conta que um homem do deserto é capaz de comer durante três dias, com apenas uma tâmara. Sob a palmeira, uma poça miserável de água suja e salgada é "o poço". Um refresco valioso e vital para os peregrinos que viajaram centenas de quilômetros através das charnecas mais desoladas e ficam desde há dias sem a última gota de água. Nenhum palácio na terra pode valer o que vale essa água, cheia de areia e viscosa, para as gargantas queimadas que conheceram os ventos do planalto. Muitos não sabem que nem o poço, nem o oásis e a palma podem sobreviver, se não for pelas mãos que mantêm sempre aberto aquele funil, livre da areia, graças a uma geração após outra de "guardiões do poço". Não há arquivos ou bibliotecas, mas por milhas e milhas, ao redor, os velhos com roupas coradas de anil, com um véu que protege o rosto do olhar dos estrangeiros impuros, poderiam dizer por memória a lista completa dos viajantes que têm bebido aq uela água suja e salobra, ao longo dos últimos mil anos. Passaram príncipes, generais, peregrinos, pregadores, bandidos e pobres viajantes. Eu estive lá, também, há muitos anos. 94