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LiteraLivre nº 5
- Setembro de 2017
O Mendigo do Viaduto do Chá
Regina Ruth Rincon Caires
Araçatuba/SP
A moeda corrente era o cruzeiro. A passagem de ônibus custava
sessenta centavos. O ano era 1974.
Eu trabalhava no centro da cidade, em um banco que ficava na Rua Boa Vista.
Morava longe, quase ao final da Avenida Interlagos, e usava diariamente o
transporte coletivo. Meu trabalho, no departamento de estatística, resumia-se
a somar os números datilografados em planilhas e mais planilhas fornecidas
pelas agências do banco. Somas que deveriam ser checadas, e que eram
efetuadas nas antigas calculadoras elétricas com suas infernais bobinas,
conferidas e grampeadas nas respectivas planilhas. Não fosse o café para
espantar o sono durante as diárias e rotineiras oito horas de trabalho,
nenhuma soma teria sido confirmada.
Era uma época menos violenta. Havia assaltos, furtos, mas com uma
incidência infinitamente menor que a de hoje. Não havia caixas eletrônicos,
não havia cartões de crédito ou de débito. Os mais abastados faziam uso de
talões de cheques, e os remediados, feito eu, carregavam dinheiro vivo.
Minguado, mas estava ali.
O meu dinheiro ficava em casa. Na bolsa eu carregava apenas os
trocados das passagens de ida e volta. Numa repartição da bolsa, fechada com
zíper, eu sempre colocava uma reserva de dois cruzeiros, a título de precaução
para alguma pequena emergência. A comida eu levava de casa, não havia
despesas maiores no dia a dia. Todas as compras da semana eram feitas na
feira de Santo Amaro, aos domingos.
A metrópole sempre está em construção, mas naqueles dias o centro
era uma escavação só. Com a construção do metrô, as enormes
retroescavadeiras, os gigantescos guindastes, as malditas britadeiras com seus
trêmulos operadores, tudo somado remetia a um ruído enlouquecedor, trazia
um desassossego sem medida. Caminhar por ali era angustiante.
Certa manhã, cruzando o Viaduto do Chá, deparei com um vendedor
ambulante que oferecia selos e envelopes de carta. Como o meu estoque havia
acabado, fiz a compra usando a pequena reserva de emergência que carregava
na bolsa. Sim, tínhamos o costume de escrever aos amigos e parentes
distantes e os serviços dos Correios eram a forma mais barata, segura e
eficiente de comunicação.
Na escada que ladeia o Viaduto, trajeto que eu fazia diariamente na ida
para o trabalho e na volta para casa, encontrava sempre um homem cego, com
uma perna amputada, a mendigar. Estava sempre acomodado no degrau mais
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