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LiteraLivre nº 5
- Setembro de 2017
removendo sozinha uma soleira de Por fim, quando o homem vê que o
granito da porta de uma prisão, seu amor obcecado não tem retorno,
trabalho recusado por peões robustos e não é correspondido, passa a ameaçar
de boa compleição física; enfim, tinha o seu objeto de desejo com
afinidade com trabalhos hercúleos, expressões de ranço de ódio e
mais adequados a tipos rijos e vingança:
másculos. - Foi o diabo que te atravessou no
Mas Luzia, embora fizesse questão de meu caminho. É a última vez que me
ostentar esse invólucro, trazia no seu empatas, peitica do inferno!
âmago a candura e a doçura da mulher, Enfim, afora o enredo ser regado de
qualidades que lhe eram acrescidas por invídias e emulações; de encontros e
uma beleza agreste, diferente, exótica, desencontros de sentimentos; de
que chamava à atenção de homens artimanhas e ardis; de devoções e
sensíveis, como o personagem covardias, o escritor acaba construindo
Alexandre, por quem devota um amor um amplo painel de personagens
platônico, como também por homens brotados do horror da seca. Uns,
desprovidos de sensibilidade alguma, sôfregos por uma vida de honradez;
como o rude e escuso soldado alguns, calejados e conformados com
Crapiúna, que passa a persegui-la o mormaço e a aridez de
desde a primeira vez que a encontra. oportunidades; outros, deformados
Em princípio paparicando-a com pela cultura incipiente e ausência
palavras de bajulice e lisonja. Depois, absoluta de civilização. Com efeito,
com missivas de cunho fanático e uma obra espantosa para os padrões
doentio: literários da época e que, por certo,
“Minha Santa Luzia – Esta tem
serviu de norte para uma geração
por fim unicamente dizer-lhe que há de talentosa de letrados nordestinos que
se arrepender da sua ingratidão, e despontaria trinta anos depois. Gente
quem lhe diz isso é o seu amante fiel da casta de José Américo de Almeida,
até a morte – Crapiúna” José Lins do Rego, Jorge Amado,
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