Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 5ª edição | Page 79

LiteraLivre nº 5 - Setembro de 2017 removendo sozinha uma soleira de Por fim, quando o homem vê que o granito da porta de uma prisão, seu amor obcecado não tem retorno, trabalho recusado por peões robustos e não é correspondido, passa a ameaçar de boa compleição física; enfim, tinha o seu objeto de desejo com afinidade com trabalhos hercúleos, expressões de ranço de ódio e mais adequados a tipos rijos e vingança: másculos. - Foi o diabo que te atravessou no Mas Luzia, embora fizesse questão de meu caminho. É a última vez que me ostentar esse invólucro, trazia no seu empatas, peitica do inferno! âmago a candura e a doçura da mulher, Enfim, afora o enredo ser regado de qualidades que lhe eram acrescidas por invídias e emulações; de encontros e uma beleza agreste, diferente, exótica, desencontros de sentimentos; de que chamava à atenção de homens artimanhas e ardis; de devoções e sensíveis, como o personagem covardias, o escritor acaba construindo Alexandre, por quem devota um amor um amplo painel de personagens platônico, como também por homens brotados do horror da seca. Uns, desprovidos de sensibilidade alguma, sôfregos por uma vida de honradez; como o rude e escuso soldado alguns, calejados e conformados com Crapiúna, que passa a persegui-la o mormaço e a aridez de desde a primeira vez que a encontra. oportunidades; outros, deformados Em princípio paparicando-a com pela cultura incipiente e ausência palavras de bajulice e lisonja. Depois, absoluta de civilização. Com efeito, com missivas de cunho fanático e uma obra espantosa para os padrões doentio: literários da época e que, por certo, “Minha Santa Luzia – Esta tem serviu de norte para uma geração por fim unicamente dizer-lhe que há de talentosa de letrados nordestinos que se arrepender da sua ingratidão, e despontaria trinta anos depois. Gente quem lhe diz isso é o seu amante fiel da casta de José Américo de Almeida, até a morte – Crapiúna” José Lins do Rego, Jorge Amado, 74