Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 5ª edição | Page 21

LiteraLivre nº 5 - Setembro de 2017 Antropofagia Secular Diego Teles Ilhéus/BA Em meio às músicas eletrizantes, nos conhecemos. Estávamos numa caixa obscura, fechada. As luzes piscavam coloridas, intercaladas com efeitos que proporcionavam certa disritmia. Nossos movimentos se tornavam pausados. Lá pelas tantas, madrugada adentro, evidentemente, já inebriados, fomos para um lugar vazio. Um beco. Um banheiro. Um carro. Não me recordo. Excitadíssimos, comecei o meu jantar. O corpo sucoso servia-se à minha frente. Aquelas curvas, milimetricamente postas em seus devidos lugares, só aumentava minha fome. Ao menos assim me recordo dela. Prefiro acreditar que os meus olhos não estavam ludibriados pelas substâncias que compunham o prato de entrada daquela noite. Ela me provocava. Deixava-me cada vez mais intumescido. Sabia qual seria sua sentença, mas me desafiava com mãos e boca. Deixei-a divertir-se um pouco, enquanto eu me transbordava em desejo, como se os papeis estivessem invertidos, eu a presa e ela o predador. Não por muito, vigorosamente, prendi minha mão direita em sua nuca e tasquei um beijo. Ardente. Arisco. Nossas línguas, ainda sob o efeito das músicas eletrizantes, agora dançavam descompassadas. Desgovernadas. A presa que em nenhum momento se mostrara arredia, fez menção. Tarde demais, já estava dominada. Que presa! Minhas mãos começaram a fazer o reconhecimento da carne. Passeei por todo seu corpo, 16