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LiteraLivre nº 5
- Setembro de 2017
Antropofagia Secular
Diego Teles
Ilhéus/BA
Em meio às músicas eletrizantes, nos conhecemos. Estávamos
numa caixa obscura, fechada. As luzes piscavam coloridas, intercaladas
com efeitos que proporcionavam certa disritmia. Nossos movimentos se
tornavam
pausados.
Lá
pelas
tantas,
madrugada
adentro,
evidentemente, já inebriados, fomos para um lugar vazio. Um beco. Um
banheiro. Um carro. Não me recordo. Excitadíssimos, comecei o meu
jantar.
O corpo sucoso servia-se à minha frente. Aquelas curvas,
milimetricamente postas em seus devidos lugares, só aumentava minha
fome. Ao menos assim me recordo dela. Prefiro acreditar que os meus
olhos não estavam ludibriados pelas substâncias que compunham o
prato de entrada daquela noite.
Ela me provocava. Deixava-me cada vez mais intumescido. Sabia
qual seria sua sentença, mas me desafiava com mãos e boca. Deixei-a
divertir-se um pouco, enquanto eu me transbordava em desejo, como se
os papeis estivessem invertidos, eu a presa e ela o predador. Não por
muito, vigorosamente, prendi minha mão direita em sua nuca e tasquei
um beijo. Ardente. Arisco. Nossas línguas, ainda sob o efeito das
músicas eletrizantes, agora dançavam descompassadas. Desgovernadas.
A presa que em nenhum momento se mostrara arredia, fez menção.
Tarde demais, já estava dominada. Que presa! Minhas mãos começaram
a fazer o reconhecimento da carne. Passeei por todo seu corpo,
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