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LiteraLivre nº 5
- Setembro de 2017
Trabalhinho
Hilton Görresen
Joinvile - SC
Peguei na geladeira a última latinha de cerveja, me sentei na poltrona já
puída e fui saboreando a bebida aos pouquinhos. Puta miséria!
Foi quando tocou o celular. Era o Pivica.
– E aí, tá a fim de um trabalhinho?
Porra, eu estava desempregado há seis meses, sem crédito no celular,
espremendo a última latinha de cerveja e o puto me perguntava se queria um
trabalhinho.
– Demorô, mano. Topo, seja o que for – eu respondi.
O Pivica era da pesada, mas nunca havia se metido em coisas como
roubos ou assassinatos. Eu também, nunca me passou pela cabeça mandar
alguém desta para a melhor, ou para a pior, sei lá, nunca me preocupei com o
que acontece depois desta bosta de vida.
– Então me espere amanhã, às nove da noite, em frente do bar do Julião.
– Certo, mano. E qual é o trampo desta vez?
– Lá eu te explico.
Isso era pelas onze da manhã, acabei a cerveja, calcei os tênis e fui
andando até o mercadinho ali do bairro. Tava economizando os trocados feito
um desgraçado para pelo menos um sanduba na hora do almoço. Mesmo
assim, depois que abandonei a academia por falta de dinheiro havia até
engordado alguns quilos. Mas era um cara bombadão, com 1,83m e 42 cm de
bíceps. Por isso, o Pivica me chamava quando havia um serviço que precisava
de força bruta. Era eu que carregava o piano.
No outro dia, quinze para as nove eu já estava de plantão, encostado num
poste, na frente do bar. Estava quente pra caramba. Mariposas voavam em
torno do poste, davam cabeçadas no bocal da lâmpada. Havia colocado a
camiseta regata da academia, azul com letras brancas, gostava de andar
exibindo os músculos. Porra, era tudo o que eu tinha. Como diz o ditado: se
você só tem um limão, faça uma limonada. Meu corpo ainda impressionava as
meninas.
O Pivica só pintou aí pelas nove e quinze. Vinha tranquilo, de calça jeans
rasgada num joelho, camiseta do Flamengo. Era mais baixo e mais magro de
que eu, os braços eram finos e lisos. O cabelo, como sempre, numa
desorganização que ele dizia ser um penteado. Tinha uma enorme pinta no
lado esquerdo do rosto, os lábios arqueados para baixo, o que fazia que ele
parecesse sempre estar triste.
– E aí, mano. Qual é o negócio?
– Um cara tá transando com a mulher do nosso cliente. Vamos pegá os
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