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LiteraLivre nº 5
- Setembro de 2017
Senha
Ramon Carlos
Florianópolis/SC
Nas vibrações das mazelas
Ruídos místicos das docas
Congestionaram a viela
E os ecos foram de carona
Para rua sem saída
O soturno gritou por silêncio
Enquanto fazia a barba deitado
Pediu-me opinião sobre seu cavanhaque
“É um formidável retentor de buceta”
Peguei na mão dela e atravessamos a rua
Caminhamos até um vendedor de garapa
“Dois com limão”
Aguardamos toda a engenharia
Seu vestido bronze com relevos pitorescos esvoaçava
Como as asas de um filhote recém-chocado
Seu olhar que podia parecer periclitante
Mirava com louvor as sombras das árvores
Vitrines embaçadas pelo vapor íntimo
Paguei R$ 10,00, um copo maior que o outro
Ela sugeriu sentar para beber, concordei
Do outro lado via-se um museu fechado
Uma balança de farmácia, um vendedor de toalhas
O outro lado é uma miragem em construção
Falei em comboios atenuantes
Expliquei o retentor do soturno
Disse-me dos ladrilhos suportando pesos
E afundando em partes
Também dos rins equalizando os termos
As luzes aos poucos contestavam o pôr do sol
Ao passo em que as cigarras afinavam os acordes
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