Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 5ª edição | Page 103

LiteraLivre nº 5 - Setembro de 2017 Adormeci em paz com o mundo, na noite fria do deserto. Na manhã seguinte, eu estava sozinho, envolto em meu albornoz. No terreno, no oásis todo, nenhuma impressão, nenhum traço visível. Ao redor da poça de água renovada havia cheio de vida: besouros e escorpiões, chegando para saciar sua sede. Em seguida, foi a vez dos lagartos. Mais tarde veio mesmo um casal de pássaros, chegando até lá por quem sabe qual distância. Uma semana depois, eu soube que o ponto em que parei era chamado Hassi djenún, "o poço dos espíritos", e que ninguém havia encontrado água aí por pelo menos quinze anos. Somente a palmeira tinha sobrevivido, chegando com as raízes a algum fluxo misterioso subterrâneo. Nunca soube se os assaltantes eram homens, viventes ou djenún (duendes, aparições), ou ainda imagens do meu longo sonho restaurador, depois de um copo de água suja e uma tâmara mágica. Gosto de pensar que em algum lugar lá fora, no grande deserto, um velho velado ainda se lembre do meu nome, distorcido na pronúncia local, do rumi (homem branco) que um dia dera nova vida ao poço dos espíritos. www.liutprand.it 98