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LiteraLivre nº 5
- Setembro de 2017
Adormeci em paz com o mundo, na noite fria do deserto. Na manhã
seguinte, eu estava sozinho, envolto em meu albornoz. No terreno, no
oásis todo, nenhuma impressão, nenhum traço visível. Ao redor da poça
de água renovada havia cheio de vida: besouros e escorpiões, chegando
para saciar sua sede. Em seguida, foi a vez dos lagartos. Mais tarde veio
mesmo um casal de pássaros, chegando até lá por quem sabe qual
distância.
Uma semana depois, eu soube que o ponto em que parei era chamado
Hassi djenún, "o poço dos espíritos", e que ninguém havia encontrado
água aí por pelo menos quinze anos. Somente a palmeira tinha
sobrevivido,
chegando
com
as
raízes
a
algum
fluxo
misterioso
subterrâneo. Nunca soube se os assaltantes eram homens, viventes ou
djenún (duendes, aparições), ou ainda imagens do meu longo sonho
restaurador, depois de um copo de água suja e uma tâmara mágica.
Gosto de pensar que em algum lugar lá fora, no grande deserto, um
velho velado ainda se lembre do meu nome, distorcido na pronúncia
local, do rumi (homem branco) que um dia dera nova vida ao poço dos
espíritos.
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