Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 5ª edição | Page 101

LiteraLivre nº 5 - Setembro de 2017 A seguir, um sono remunerador me apanhou. Adormeci, envolto na capa ou albornoz de lã, que me havia protegido do vento e da areia ao longo da viagem. Um sono pesado, na companhia de velhas memórias e dos fantasmas do lugar, importantes como em um castelo escocês. Não sei quanto tempo durasse, ou se alguém tivesse chegado ao oásis, enquanto eu estava imerso no sonho. Sonhei com um elefante - ou talvez um mamute - correndo de probóscide alta e levantando baforadas de água de um lago cheio de plantas aquáticas. Olhei para ele e não fugi. Então me carregou um guerreiro feroz com a armadura negra, armado com uma lança e cimitarra, com um capacete de alta ponta. Ainda me lembro de seus olhos de fogo olhando para mim, cheios de ódio - ou de ira divina? - e oiço ressoando em meus ouvidos o grito de guerra dele. Passavam caravanas carregadas de ouro e couro e de objetos preciosos carregados em pequenos cavalos nervosos conduzidos pelos servos pretos. Então vi muitos dromedários carregados com ouro, eram o cortejo de um grande rei negro indo para o leste, para a Meca dos crentes. É compreensível que fiquei surpreso e um pouco assustado, acordando, ao encontrar-me no meio de um grupo de saqueadores do deserto que estavam cozendo carne de carneiro num fogo de ramos secos. Tinha-me despertado a fumaça acre da gordura, chiando sobre as chamas e as brasas. O líder do grupo, vendo-me com os olhos abertos, me ofereceu chá com hortelã. Era um bom sinal: oferecer chá é uma declaração de hospitalidade e amizade. Com gestos, e com o meu conhecimento limitado da língua dos nômades, nasceu uma conversa 96