Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - 10ª edição | Page 82
LiteraLivre Vl. 2 - nº 10 – Jul/Ago. de 2018
— Mesmo sendo cego contemplei o medo. — Respondeu o homem. — Que
Alá me livre, era o demônio da fundação.
— Que fundação? — Perguntou Pax ao mulçumano que apesar de não ser
fanático como os membros do EI via em seu credo refúgio ante os temores do
inominável.
— O Estado Islâmico despertou algo muito antigo. Babilônia, era o Ifrit
desconhecido! Ele deve querer restaurar a Babilônia final.
Enquanto os homens interrogavam aquele cego, os demais rondavam o
lugar até que se encontrou um celular nas mãos desossadas de uma das vítimas
em que aparentemente havia gravado em áudio o momento do ocorrido. Um
soldado pegou de suas mãos após fotos serem tiradas quando um outro homem
se aproximou de frente de uma loja afirmando haver gravações de uma câmera
de segurança.
Os homens esperavam ter respostas, porém, o que se ouviu e viu fora não
menos incógnita e medonho do que as dúvidas que perfilavam ante os corpos
estropiados de suas vítimas. Pax pegou o celular e ao reproduzir o áudio ouviu os
gritos de agonia e dor de suas vítimas que clamavam por Alá em vão. Mulheres
recebiam ordens de fugir com os filhos mas pegas pela curiosidade ao fintarem o
perpetrador das atrocidades eram igualmente pegas. Enquanto isso alguns
homens pediam repetidamente para elas não contemplarem a visão aterradora.
Ao rodar o vídeo o ponto onde a criatura havia manifesto mostrava apenas um
borrão trêmulo de luz enquanto duas vítimas a seu redor eram contorcidas por
uma força imensurável e intangível. As imagens tinham interferência como de
alguma fonte de eletromagnetismo tornando difícil a compreensão. Pax engoliu a
seco e tomou um gole a mais de café, enquanto que para Ali algo apocalíptico
havia sido liberto pela eclosão do Estado Islâmico.
Para a ciência o mal não existe. Das ciências sociológicas e a antropologia o
relativismo desatina a compreensões vagas, ausentes de paradigmas, mas que
eram desfeitas ante um mal que apesar de indescritível era absoluto e universal.
Sobretudo perceberam que aquela entidade seguia um percurso até antigas
ruínas babilônias, um caminho que segue pelo número de mortos e
desaparecidos pelo trajeto, nenhuma pessoa que o encontra sobrevive, nenhum
que pudesse fintá-lo diretamente. Aquilo que perseguiam não poderia ser
daquele mundo.
Pax e Ali viraram-se e viram o cego balançando-se ao repetir a palavra
“Ifrit”. Ele gemia entre um pedido e clamor a Alá, o único deus que conhecia.
Ao disporem um mapa da região perceberam que a entidade fosse o que
fosse seguia uma direção e o trajeto indicava que o próximo ponto era as ruínas
babilônia onde o qual o Estado Islâmico novamente se encontrava. Temerários,
os homens, porém, tinham a curiosidade e o dever moral de resolução do caso
como força motriz no empenho de impedir aquela coisa sem definição. De modo
que incumbidos daquela missão tinha de deter aquele terror prolifero naquele
ambiente hostil de guerra, violência e destruição.
Todos partiram em direção ao sítio arqueológico, mas quando se
aproximavam viram um carro de rebeldes do Estado Islâmico aterrorizados
fugindo em sentido oposto. A Resistência Babilônia fechou o carro os cercando,
77