Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - 10ª edição | Page 17

LiteraLivre Vl. 2 - nº 10 – Jul/Ago. de 2018 A Avareza e a Inveja Ricardo Ryo Goto São Paulo/SP Para Rubem Alves Na Grécia antiga, ainda que vivessem às turras, a Avareza e a Inveja não se largavam. Onde uma ia a outra a acompanhava, reavivando sempre sua inimizade a molestarem-se constantemente. -Para que acumular se não pode desfrutar ? perguntava a Inveja. -Para que você sinta estar sempre aquém daquilo que poderia atingir. E você ? Por que se preocupar com a vida alheia? -Para estar certa de que aquele que invejo nunca será feliz com o que tem, por mais que venha a ter. E de crítica em crítica, cada uma procurava encontrar o melhor argumento para atacar, humilhar e desqualificar a outra. Um dia, a deusa da Sensatez desceu à Terra para tentar conciliá-las. -Atendendo ao pedido de uma de vocês darei à outra o dobro. A Avareza perguntou: " se peço um pote cheio de ouro, a outra receberá dois" ? A Inveja constatou: "ao desejar dez belos vestidos estarei concedendo a ela vinte outros iguais"? Era isso, bem entendido. Por menor que fosse a quantia solicitada, a outra ganharia invariavelmente mais. Nenhuma das duas ousava pronunciar qualquer tipo de vontade. -Está bem, disse a Avareza - pensando ser muito esperta ao praticar o vício de querer sempre mais para si.-Tira-me uma das pernas. Imediatamente a divindade arrancou-lhe uma e, ato contínuo, as duas da Inveja. 12