Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - 10ª edição | Page 16

LiteraLivre Vl . 2 - n º 10 – Jul / Ago . de 2018
Bernadete , olha que castelo lindo esse aqui na Espanha . E Bernadete olhava , agora com os olhos bem abertos . Os olhos verdes molhados de saudade , saudade sim , porque ela jurava de pés juntos que ali ela já havia passado . Lembrava dos mouros atacando o país , lembrava do seu amado defendendo o lugar deles com unhas e dentes , mais canhões , arco e flecha , arcabuzes e muita coragem . E Paris ? Ah essa cidade não tinha igual . Os salões século XIX , os bailes , as damas , os cavaleiros , as máscaras , e aqui Bernadete parava na dúvida . Achava que os bailes com máscaras era na Itália , mas não faz mal , na última vez que ela esteve na frança o baile era de máscara . Com homens elegantes , mulheres chiquérrimas , e Bernadete toda iluminada , roubava a luz dos candelabros e valsava com desenvoltura e presteza , valsava como se ela tivesse nascido praquilo , para a valsa , para os rapapés , para os beija-mãos , para os lenços perfumados oferecidos pelo par da ocasião , da vez , passando no rosto de Bernadete . E Bernadete ria . Seguia valsando e rindo . Ria de tudo . A caixa dos cartões-postais , uma caixa de sapato mais pra lá do que velha , já estava em cima da cama e todos os cartões embaralhados fora da caixa . Como fui boba . De repente , Bernadete olha dentro do armário , chamada sua atenção por um barulho , e dentro do armário , bem no fundo , quase não conseguindo enxergar , havia um sapo . Era um príncipe ? Seu cavalo branco ? Seu beijo salvador na donzela à morte ? Seus sonhos e riquezas ? Sua esperança de que tudo mudaria em um passe de mágica , em um conto de fadas ? Qual nada . Antenor foi chegando de surpresa , sentou-se ao lado dela , envolveu-a com o braço pela cintura , e Bernadete se deu conta de que dentro do seu minúsculo quarto fazia um calor dos diabos e que seu vizinho escutava pra todo mundo escutar aquele funk barulhento toda vida . Os cartões-postais em cima da cama , e Bernadete começou a chorar sentindo falta daquele tempo em que ela fechava os olhos e os sapos cantavam no brejo .
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