Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - 10ª edição | Page 103

LiteraLivre Vl. 2 - nº 10 – Jul/Ago. de 2018 O Depoimento de um Assassino JonathanDSR Osasco/SP Eu me levantei ofegando e suando, tremendo de medo enquanto tirava lentamente as mãos do pescoço da minha esposa. Chorando e lamentando o que acabara de acontecer, percebi lamentavelmente o que eu acabara de fazer. Eu acabara de tirar a vida da minha mulher. Eu levei as mãos a cabeça pensando desesperado no que aconteceria, arrependido e com medo do destino que levaria. Por muitas vezes levei em conta a ideia de esconder o cadáver onde ninguém nunca encontraria, mas, erroneamente, o medo de me aproximar daquele cadáver ainda quente era maior. Sentindo o arrependimento me torturando de pouco em pouco, cada vez mais forte, eu corri pela casa, fugindo daquela maldita cena, eu caí por uma forte impotência, chorando, mas levantei abruptamente, subindo a escada pensando em nunca mais voltar. Eu me sentei no canto do quarto, me encolhendo, gemendo e tragando uma garrafa de uísque, tentando esquecer o que acontecera por pelo menos uma noite. Mas como essa noite foi perturbada, meu sono oscilava, já não sabia mais se eu estava acordado ou perdido em um sono profundo, pois, amedrontado, eu gemia sentindo o aproximar gelado de vultos dançando a minha volta, sem coragem de abrir os olhos e nem de clamar por ajuda. Sentindo a culpa, sonhando em estar preso na tortura eterna de enforcar com as minhas mãos ela até sua morte, de novo e de novo, como Sisifo que leva a pedra ao topo da montanha. Encolhido, com a garrafa vazia em minhas mãos, após sair do purgatório que fiz para mim mesmo em minha mente, finalmente com a luz irradiada das janelas eu me levantei, ainda tremendo. Esse dia estava lindo, ah, como estava lindo, com uma luz forte, mas com uma brisa fresca. Transtornado pela beleza daquela manhã eu desci lentamente a escada, pedindo a Deus para que tudo aquilo tivesse sido um sonho, para que eu encontrasse a minha esposa na cozinha, fazendo algo para comermos, sorrindo. Cada passo foi eletrizante fazendo tremer as minhas entranhas, suplicando a Deus de novo e de novo. Ao chegar até os últimos degraus eu virei a minha cabeça lentamente, excitando, foi como uma apunhalada em meu coração quando vi ela lá, caída no chão, pálida e imóvel, atraindo para si vultos gargalhando pelo que eu fizera. As minhas pernas me desobedeciam, meu corpo inteiro estava indisposto de tudo, mas eu, forçando com toda a minha força de vontade consegui sair correndo daquela cena, subindo as escadas, caindo de fraqueza, já sem lagrimas para continuar a minha lamentação. Eu fugi de tudo indo para minha varanda, onde pude ver a rua quase deserta, exceto por um cão, negro e magro, se aproximando da sacada, olhando para mim com seus olhos camuflados no seu pelo defeituoso pela velhice e sarna. 98