Revista LiteraLivre edição especial - 03 | Page 30

LiteraLivre Edição Especial nº 03 - 2019 em que havia chovido horas atrás e o cheiro de terra molhada preenchia as narinas de Ana Lúcia, que ela adentrou o cemitério levando consigo flores, um balde e produtos de limpeza para o túmulo de seu querido filho. Ana Lúcia chegou na sepultura do filho e avistou aquela jovem mulher, novamente como das vezes passadas, a pobre coitada estava desolada em frente ao túmulo. Chorando, tão triste. As lágrimas descendo por seu rosto de pele clara, enquanto ela era incapaz de conter suas fortes emoções. Intrigada e partilhando de muito sofrimento pela perda de um ente querido, Ana Lúcia decidiu ir até aquela mulher, talvez uma conversa amigável pudesse acalmá-la. -Oi, me desculpe interromper seu momento de tanta dor, mas recentemente perdi meu filho e estou arrasada também – falou Ana Lúcia ao se aproximar da jovem cujas mãos estavam sobre a face, seus ombros tremiam enquanto ela chorava e soluçava. -Quem sabe podemos conversar um pouco e assim você se acalma. Meu nome é Ana Lúcia. A jovem tirou as mãos do rosto e se voltou para Ana Lúcia, que viu aqueles lúgubres olhos verde-acinzentados e vermelhos. Havia tanta tristeza naquele olhar suplicante, seu rosto era pálido e moldado pelas linhas de angústia e dor. Muita dor. -Você pode me ajudar? – indagou a moça, numa voz embargada, falha, quase como um sussurro. Ana Lúcia notou que a jovem usava jeans e uma blusa laranjada. Ela não sabia dizer se era a mesma roupa dos dias anteriores, mas de certo era o mesmo estilo. -Sim, minha querida. O que eu puder fazer por você. – disse-lhe Ana Lúcia e exibiu um sorriso amarelo. -Quem você perdeu? Os olhos da jovem moça encontraram os de Ana Lúcia enquanto as lágrimas rolavam por sua face pálida. Seus lábios estavam sem cor e grossas olheiras sombrias estavam embaixo de seus olhos. Ela era tão bonita, mas toda aquela dor e amargura a tinham empalidecido, como um lindo desenho em papel que é amassado e pisoteado. -Preciso que você me tire daqui, eu não aguento mais esse lugar. – falou a jovem entre soluços, seus ombros tremendo, a dor indizível afligindo-a. -Já faz dias que estou aqui, sofrendo, lamentando ante este túmulo. Eu não estou suportando mais essa aflição... Aqui jaz Lizza Dalkher, 22 anos. Foram as palavras que Ana Lúcia pronunciou em voz alta lendo a lápide ao lado da jovem moça. -Lizza é sua irmã? – indagou Ana Lúcia, voltando o olhar para a jovem que pareceu confusa com sua pergunta, como se a pronúncia do nome a fizesse estremecer em uma confusa noção de realidade. [27]