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LiteraLivre Edição Especial nº 03 - 2019
casa, mas sem muito participar, opinar ou receber qualquer coisa que
demostrasse que gostavam de sua presença.
Para não ser injusta, tinha que considerar que saía de vez em quando para ir
à igrejinha ali perto.Era bom porque encontrava pessoas diferentes, às vezes,
durante a oração alguém a abraçava ou apertava sua mão, sorridente,
desejando-lhe paz. Outras, recebia a benção do padre ao final do culto. Parecia
sentir-se mais fortalecida com esses episódios. Gostava de ir ali. Não era sempre
que podia, só quando a filha a mandava passear e só voltar umas horas mais
tarde.
Sobre estas ocasiões não podia comentar nada com o genro e nem com
outra pessoa.
Já sabia que este dia seria um deles. Era quinta-feira. Sempre às quintas. Já
estava antevendo que o dia passaria mais rápido. Ao mesmo tempo, parecia que
as horas se arrastavam.
Após o parco almoço e a saída do genro para a loja onde trabalhava no
almoxarifado, a filha a avisou que deveria dar uma volta, ir à igreja e só voltar lá
pelas cinco horas.
E assim foi. Chovia na hora que saiu. Mas, mesmo assim foi até lá. Rezou,
rezou tanto que as horas passaram e ela quando se apercebeu tremia de frio.
Sentia uns calafrios.
Era hora de ir. Tinha pressa de chegar a casa e tirar a roupa úmida que tinha
no corpo. Chovia ainda, agora mais forte, as ruas estavam com muita água. Seus
óculos com água a escorrer turvava sua visão. Quando se deu conta, só ouviu a
buzina, a freada e nada mais.
Silêncio. Acreditou que estava bem, pois se sentia flutuar. No meio da rua,
uma mulher estirada que ela não reconheceu. Pensou seguir seu caminho. Deus
devia ter escutado suas preces. Queria a paz e o aconchego de um lar. Estava
voltando para casa.
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