LiteraLivre nº 7 – janeiro de 2018
seu lado como menina. A paixão pela vida inspira paixões. E a paixão de Augusto
me inspirou um questionamento insólito.
Perguntei-me o que Sofia teria achado desse presente e em seguida me
desesperei ao pensar que ela pudesse jamais tê-lo recebido. Recompus-me da
última ideia, mas logo me vi sugestionando qual teria sido a promessa de
Augusto e porque eles não se viam há tanto tempo. De onde eram, de onde se
conheceram e como se reencontraram - se é que houve o reencontro. Não havia
data, nem local ao fim da dedicatória. Fui ao sebo pela manhã em busca de
amparo, e deparei-me, contudo, em um mistério que não resolverei. Posso
questionar-me infinitas dúvidas, e posso saná-las com minha opinião. Todavia,
jamais terei as verdadeiras respostas.
Olhei pela janela e as nuvens ainda perambulavam; porém, um lampejo de sol
conseguiu me alcançar. Viajei na beleza dos livros e dos amores e vi quantas
semelhanças era possível traçar. Mil pessoas podem ler uma obra e conhecer um
amor, entretanto, nenhuma delas compreenderá por completo a história e a
intenção daqueles que redigiram e daqueles que amaram. As folhas podem se
despregar do livro e serem levadas com o vento, mas os ensinamentos
permanecerão na alma de quem os leu. E do mesmo modo, dois amantes
verdadeiros que se perdem no tempo ainda guardam consigo a certeza do maior
dos sentimentos. Os livros e os amores são exclusivos àqueles que se dispõem a
arriscar, contudo, deixam aos corajosos, grandes dádivas. Busquei pela manhã
simples versos, mas cheguei a tamanha reflexão que me vejo agora em completo
fascínio. Voltarei ao sebo amanhã logo cedo, e, a partir de hoje, me entrego ao
amor.
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