Revista LiteraLivre 7ª edição | Page 30

LiteraLivre nº 7 – janeiro de 2018 E foi, já no escuro da noite, correndo de parede em parede, esgueirando-se por moitas de bananeiras, varando cercas, atravessando ruas na noite escura. E a cada espaço de tempo, respirava fundo, benzia-se e pedia a Deus para que aplacasse a ira do seu pai. Não escaparia da cinta, disso ele sabia. O que pedia a Deus é que as cintadas fossem menos iradas, mais suaves... Enfim, Mário chegou ao quintal de casa. Caramba, no varal não havia nenhum pano, nada para se cobrir! Tinha certeza de que o pai, a mãe e seus irmãos estavam lá dentro, esperando por ele. E sabia que seus irmãos iriam cair na risada quando ele entrasse pelado. Talvez não. O pai devia estar furioso e os irmãos não iriam ter coragem de rir! Duro ia ser aguentar a gozação, a zoeira dos próximos dias... Mas não queria pensar no depois. Tinha de resolver o agora. E com a voz quase sumida, disse: - Pai! Nada, ninguém apareceu. - Paiêêê!!! Gritou tão forte que chegou a fechar os olhos. E o pai apareceu. Imenso. Parecia maior que a porta! E Mário ali, em pé, no escuro, e pelado. Nem queria olhar para a mão dele. A cinta deveria estar ali, saltitante, ávida pelo seu lombo, pronta para estalar... Mas não estava. Para sua surpresa e alívio, não estava. Mário caiu no choro. Choro de vergonha, de medo, de arrependimento, de tudo... E Seu Osvaldo entendeu. Não seria preciso castigar mais. Limitou-se a buscar uma toalha, cobrir o filho, abraçá-lo e dizer: - Mário, meu filho, que esta seja a última vez! E parece que foi... 25