LiteraLivre nº 7 – janeiro de 2018
E foi, já no escuro da noite, correndo de parede em parede, esgueirando-se
por moitas de bananeiras, varando cercas, atravessando ruas na noite escura. E
a cada espaço de tempo, respirava fundo, benzia-se e pedia a Deus para que
aplacasse a ira do seu pai. Não escaparia da cinta, disso ele sabia. O que pedia a
Deus é que as cintadas fossem menos iradas, mais suaves...
Enfim, Mário chegou ao quintal de casa. Caramba, no varal não havia
nenhum pano, nada para se cobrir!
Tinha certeza de que o pai, a mãe e seus irmãos estavam lá dentro,
esperando por ele. E sabia que seus irmãos iriam cair na risada quando ele
entrasse pelado. Talvez não. O pai devia estar furioso e os irmãos não iriam ter
coragem de rir! Duro ia ser aguentar a gozação, a zoeira dos próximos dias...
Mas não queria pensar no depois. Tinha de resolver o agora. E com a voz
quase sumida, disse:
- Pai!
Nada, ninguém apareceu.
- Paiêêê!!!
Gritou tão forte que chegou a fechar os olhos.
E o pai apareceu. Imenso. Parecia maior que a porta!
E Mário ali, em pé, no escuro, e pelado. Nem queria olhar para a mão dele.
A cinta deveria estar ali, saltitante, ávida pelo seu lombo, pronta para estalar...
Mas não estava. Para sua surpresa e alívio, não estava.
Mário caiu no choro. Choro de vergonha, de medo, de arrependimento, de
tudo...
E Seu Osvaldo entendeu. Não seria preciso castigar mais. Limitou-se a
buscar uma toalha, cobrir o filho, abraçá-lo e dizer:
- Mário, meu filho, que esta seja a última vez!
E parece que foi...
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