LiteraLivre nº 7 – janeiro de 2018
Fiquei irritada com tudo aquilo, dei as costas para ele e me tranquei no meu
quarto. Assim, passei o restante do dia.
Lembro que naquela noite eu senti tanto frio que acabei acordando. Ao abrir os
olhos, percebi que não conseguia ver nada, apenas escuridão. Eu estava imersa
em uma escuridão tão grande que eu não via a minha cama, muito menos os
meus cômodos. Um vento frio passou por mim novamente. Tive uma pequena
sensação de que o vento vinha da janela do meu quarto, talvez eu a tivesse
deixado aberta.
Fui andando pela escuridão com a mão estendida, esperando tocar nos móveis do
meu quarto, mas não fui capaz de tocar em nenhum deles, não importava o
quanto eu andasse. Tentei voltar para a minha cama, mas ela não estava mais lá.
Comecei a sentir medo. Medo do desconhecido, medo do escuro, medo do que
poderia acontecer comigo... Para completar, eu me sentia sozinha. Me abracei,
sentei no chão e fechei os olhos. Não adiantava continuar andando no vazio.
Aos poucos comecei a ver e sentir coisas. Por um momento, me identifiquei com
os sentimentos, mas depois percebi que esses sentimentos não eram meus,
muito menos as lembranças eram minhas. Foi então que eu entendi onde eu
estava. Estava imersa na solidão do meu perseguidor. Por isso, comecei a ver o
que ele via e a sentir o que ele sentia.
Ele estava morrendo e não tinha ninguém, estava completamente sozinho no
mundo. Foi por esse motivo que ele passou a procurar alguém, pois não queria
morrer sozinho, no entanto ninguém parecia enxergá-lo. Até que ele me
encontrou. A única que o enxergou verdadeiramente e retribuiu o olhar. Uma
mulher pensativaque morava sozinha no apartamento 101 encima de um bar. Ele
sentiu que compartilhávamos a mesma solidão. Ele se viu em mim e achou que
eu seria a companhia perfeita para seus últimos momentos de vida, pois quando
eu o vi, ele viu dentro dos meus olhos os mesmos sentimentos e inseguranças.
Tudo mudou quando ele percebeu que a solidão era um perigo. Assim, a minha
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