LiteraLivre nº 7 – janeiro de 2018
eu saía acompanhada em anos, eu digo acompanhada com uma pessoa normal e
não com o meu perseguidor.
O sábado chegou e eu não consegui acordar tarde como havia planejado. Acordei
quase no mesmo horário para ir trabalhar e meu sono estava ali, acumulado. Me
arrastei até a sala e liguei a televisão. Fiquei trocando de canal sem ver direito o
que estava passando. Enquanto isso, meu perseguidor ia se aproximando
lentamente de mim até sentar ao meu lado dizendo: Amanhã.
Eu olhei para ele sem entender e perguntei:
— O que tem amanhã?
Ele me respondeu simplesmente:
— Amanhã.
E foi assim que passei todo o meu sábado: dando faxina na casa e ouvindo o
meu perseguidor dizendo “amanhã”.
Domingo amanheceu chuvoso e como “bom dia!” recebi as seguintes palavras da
minha sombra: não estarei mais. Neste instante, eu percebi que algo estava
acontecendo. Cada dia, ele falou um conjunto de palavras diferentes. Ele
estivesse tentando se comunicar e eu torcendo para que ele calasse a boca!
Deste modo, resolvi tentar entender o que ele queria dizer para mim. De tanto
ele falar, eu sabia exatamente cada palavra dita nesses últimos dias. Quando
juntei tudo, formou a seguinte sentença: hoje, estou aqui, amanhã, não estarei
mais.
Meu coração gelou.
— Como assim? Você vai embora?! – gritei para ele e ele nada me respondeu –
por que você não responde? Eu sei que você sabe falar! Você falou comigo todos
esses dias e agora não consegue me explicar que raios de frase é essa?
Ele não respondeu. Apenas continuou parado lá, me encarando com aqueles
olhos grandes e brancos.
— Não vai me explicar nada? – perguntei mais uma vez. Esperei ele responder,
mas nada aconteceu.
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