LiteraLivre nº 7 – janeiro de 2018
A Sombra
Tuany Teixeira da Silva
Duque de Caxias/RJ
Estou sendo perseguida.
Já tem um tempo que isso está acontecendo e parece que ninguém ao meu redor
está se importando com a presença do meu perseguidor.
Já tentei fugir, mas ele sempre me encontra e não importa para aonde eu vou,
ele vai junto. Às vezes, ele caminha ao meu lado, outras vezes, ele caminha a
minha frente e na maioria das vezes ele caminha atrás de mim, me seguindo.
Parece até a minha sombra, na verdade, ele é idêntico, a única diferença é que
ele tem dois olhos brancos.
No começo, sua presença me incomodava, hoje já não me importo. É até uma
boa companhia. Principalmente quando tenho que sair. No mercado, ele me ajuda
a escolher os melhores produtos e alimentos, inclusive aqueles que nunca tive
coragem de experimentar. Ele simplesmente pega e coloca no meu carrinho. No
banco, ele consegue me entreter durante aquela longa espera. Não sei como,
mas ele consegue esconder objetos só por encostar neles, e eu, claro, acho isso
genial. No trabalho, ele prega peças em meus colegas de trabalho com os quais
eu nunca tive coragem de conversar. Ele me faz rir de situações tão bobas e
simples. Em casa, ele não me persegue, fica apenas quieto em um canto na sala.
Acho que é um canto estratégico para assistir televisão.
E assim, a sombra continuou me perseguindo. Mesesse passaram e aquela
sombra estava lá fazendo parte da minha vida. Quem diria que eu teria uma
sombra como companhia?
Até que um dia, de repente, ele falou sua primeira palavra: Hoje. A cada
momento em que ele se aproximava de mim, ele dizia essa mesma palavra. Eu
não entendia e perguntava:
— O que tem hoje?
11