Revista LiteraLivre 7ª edição | Page 15

LiteraLivre n º 7 – janeiro de 2018

A Felicidade Não Existe

Monaliza Cristina Sousa Teresina / PI
Certo dia resolvi perambular por uma cidadezinha do interior . Lá onde o galo dá bom dia antes do sol derreter todos os sentimentos bons do Planeta . Eu vivia como um andarilho , e adorava conhecer cada pedacinho daquele chão de barro vermelho , que grudava em meus chinelos depois de uma forte chuva de fim de ano . Era tudo úmido e solitário , mas eu gostava . Foi aí que tudo começou .
Numa dessas andanças conheci uma mulher sensata , grisalha , pele desgastado pelo trabalho ao sol . Vivia sozinha numa casa que só tinha o que comer , e onde dormir . Quando jovem , foi pedida em casamento por dois lindos rapazes diferentes que prometeram uma casa , comida e uma dúzia de filhos . Recusou tudo . Disse-me que as pessoas eram mentirosas , interesseiras e fúteis . Escolheu levar uma vida sozinha para garantir tranquilidade à sua existência .
Acordava todos os dias antes do sol , e fazia suas preces . Preparava o café e fumava um maço de cigarros até chegar a hora do almoço . Sofria de hipertensão , retenção de líquido e um problema no fígado que nunca decorou o nome . Não tomava nenhum remédio para tratar da sua enfermidade , me disse que queria que a vida fosse assim .
No fim de tarde , sentada na sua cadeira de balanço , depois de contar tudo sobre sua trajetória até aquele momento , ela encarou meus olhos como quem tivesse pena de mim e disse : “ A felicidade não existe ”. Ofereceu-me um vinho barato , acendeu mais um cigarro . Já era o terceiro maço até às 17:48 de um dia útil . Caiu em prantos dizendo que queria morrer aos vinte e seis anos de idade , que era quando o ser humano chegava ao auge do fracasso , comentou . Onde a vida de nada mais adianta para ninguém . Desde ai , rogava toda noite impiedosamente para Deus apressar sua morte . Mas para o desespero daquela senhora , o Altíssimo passou despercebido por sua oração .
Passados alguns anos daquele encontro , soube que aos 57 foi internada numa clínica psiquiátrica porque se arriscou a viver na cidade grande , sob o julgo dos homens de terno e gravata . Passava o dia inteiro gritando impiedosamente para quem quer que fosse : “ vocês são uns loucos , a felicidade não existe .”
No dia seguinte que recebi essa notícia , liguei para o hospício , marquei minha internação , pois mês passado fiz vinte e seis , e confirmei que cheguei ao auge do fracasso . Gritei ao telefone com a mulher da clínica : “ a felicidade não existe ”. E imediatamente vieram me buscar .
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