LiteraLivre nº 7 – janeiro de 2018
Viagem Para o Centro do Poder
Nilza Amaral
Campinas-SP
O Poder deslumbra, insinua, “ambush”, cativa, demanda, desmanda, vislumbra,
domina, escraviza, corrompe, corrói, impele, repele, angaria, arrecada, consome.
O Poder tem armas: :mata, desnuda, estupra, desfigura, maquia, finge, dita,
desdita, embrutece, humilha, dobra.
O poder elimina a sociedade, e o indivíduo .Anula o homem, estatela.
O poder reflete inércia, depressão, brutalidade. O mundo gravita em torno do
Poder.
O trono do poder refulge, atrai, convida, alucina. Os meios para o poder são
todos válidos: a usurpação, a enganação, as trocas, as armações, a religião, a
fraqueza humana. A Natureza, esvazia-se de sensibilidade, enche-se de
hostilidade. Vinga-se. Transforma-se. O Poder é passageiro, O tempo do Poder
não é o nosso tempo. É o tempo dos deuses. O Poder é o brinquedo dos deuses.
Até que eles se cansem e transforme o Poder em Decadência. Essa substituta do
Poder é a razão e a consequência dos poderosos. E chega-se a uma verdade:
toda ação tem uma reação contrária. A reação é o Caos.
Porém, àquele estadista nada disso importava, ou achava que com ele jamais
aconteceria, afinal estava pensando no Povo, ignorando, ou querendo ignorar,
que o Povo é a mola propulsora do Poder, é pelo Povo que os heróis se arriscam,
se sobrepujam, é com o aval dele, que se enfrentam.
Em se expondo, se infiltrando, trazendo para si a atenção do mundo,
proclamando que sua única intenção era salvaguardar a cidadania de uma
população sofrida e esquecida pela humanidade, apoiado pelos órgãos da paz
mundial que talvez com a melhor das intenções buscavam um líder para seus
propósitos ou uma justificativa para sua existência.
Sua figura tornou-se conhecida da população, todos admiravam aquele homem
desprendido, belo como um deus que largava o conforto de seu lar, a vida
cômoda que conseguira, para dedicar-se à pessoas desconhecidas, do país
desconhecido apenas lembrado como um depósito de miseráveis.
Na verdade, o Estadista percebia a manipulação de sua mente agindo sub-
repticiamente, muito menos desconfiava que seguia a máxima antiga de “quem
em terra de cegos quem tem um olho é rei”. Não, ele não se aproveitaria do
Poder se o conquistasse. Pensava nas crianças abandonadas pelas ruas das
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