LiteraLivre nº 7 – janeiro de 2018
Caro amigo
Sei que o tema da carta é você e me perdoe também pela informalidade, mas
me permita escrever breves palavras sobre mim.
Na sua carta você deve ter me definido como “quietão”, ou aquele que se veste e
comporta de maneira estranha...
Não posso dizer que você esteja errado, até porque eu me apresento dessa
maneira. Deve ter escrito sobre a possibilidade de eu ser um cara legal. Mas
quero que você saiba e, por favor, entenda! Escrevo isso sem nenhum intuito de
ofensa:
Sou muito feliz por não ser igual a você.
Não pense ser fácil pra eu escrever isso. É desafiador falar de alguém sem cair
na tentação da adulação ou do preconceito; somos seduzidos por eles a todo
instante e, se não nos policiarmos, a injustiça estará feita. E qual a diferença da
injustiça para um erro? Ela não tem reparo!
Você é muito popular aqui na sala, em especial com as meninas, algo que
sinceramente eu admiro e o seu futuro profissional será próspero por conta da
sua maneira de se relacionar com as pessoas; mas saiba que esses mesmos
carisma e desinibição são capazes também de incomodar pessoas.
Por que eu digo agora estar orgulhoso? Por d0escobrir que ao querer me igualar
a você eu destruía minha personalidade. Estava tentando ser uma pessoa com a
qual não convivo ou entro em conflito nas vinte quatro horas, do dia.
Não tem como dar certo.
É ruim falar sobre alguém não é? Como podemos explorar outros universos de
não conhecemos o nosso próprio?
Espero que não tenha se aborrecido com minhas palavras e obrigado por sua
atenção e por ser o tema de minha carta
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