LiteraLivre nº 7 – janeiro de 2018
uma feliz providência... ou coincidência. Talvez fosse apenas um menino feliz,
brincalhão, inconsequente, uma criança.
Naquela quarta-feira, lá estavam eles e, no meio deles, a cara safada do
neguinho Deusdêti. Escondidos atrás dos passageiros, esperaram a arrancada, se
atracaram ao ônibus, Geraldo os percebendo – menos Matheus Gordinho - pelos
retrovisores. Foi aí que Geraldo mudou a rota, virou na Casimiro de Abreu,
dirigiu-se até a Alexandre Herculano, diminuiu a velocidade, quase parando...
Parou. Engatou rapidamente a ré, e entrou, assim, na Desembargador Otacílio
Rosberg, sem saída. Os meninos gostando do “passeio” maior, Deusdêti grudado
no parachoques do lado esquerdo, rindo gostoso, com a cara mais lavada e
safada do mundo, fazendo caretas para a cara de retrovisor de Geraldo.
Tudo acontecendo muito rápido e só então os passageiros começando a
desconfiar do novo trajeto. Aumentou inconsequentemente a velocidade só para
dar a freada brusca, as caras na lataria e a queda. Geraldo descendo do ônibus,
bufando de raiva, em meio aos gritos espantados dos passageiros. Geraldo louco,
o neguinho Deusdêti no chão.
O moleque tentando se levantar, Geraldo se aproximando, olhar fixo no
menino com nome de Deus. Sacou a arma, três tiros no peito.
- Peguei você, seu moleque!
Os passageiros de olhos arregalados, a Polícia algemando Geraldo e ele
parado, olhando para baixo. No chão, o corpo de Deusdêti em cima da poça de
sangue. A mesma cara risonha, a mesma cara lavada e safa. Como se nem
mesmo a morte lhe roubasse o prazer de brincar.
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