LiteraLivre nº 7 – janeiro de 2018
Sem o Não e Sem o Sim
Bijuka Camargo
Piracicaba/SP
Meu nome é Não!
Não sei quando e onde nasci. Sou órfão e sempre fui.
Dizem que faço parte da família de Dona Negativa e Dona Recusa, porém elas
nunca confirmaram nada.
A certeza que tenho é que sou o Não, e com motivos de sobra para deixar de
existir.
Pode parecer estranho a vontade que sinto de sumir, mas Não é! Ando cansado
de nossa convivência, e Não é de hoje.
Tenho sofrido bastante ao observar que as pessoas nascem e, mal começam a
falar, já aprendem a negar o Sim, mexendo suas cabecinhas para lá e para cá, e
ainda me carregam para o resto de suas vidas.
O desejo que tenho de desaparecer aumenta na medida em que vocês crescem,
envelhecem e Não me largam.
É difícil vê-los me usando sem muitos critérios entre pensamentos e ações.
Embora eu viva sempre de boca em boca, a Tristeza e a Solidão me acompanham
diariamente.
Sei
que sou o causador de grandes tragédias e alegrias, e que o meu sumiço causará
alguns transtornos, afinal, vocês já se acostumaram com o uso desse advérbio
em suas gramáticas e em suas vidas, porém hoje pouco me importo com o que
irão sentir daqui para frente.
Penso em mim, e tenho Certeza de que Não quero mais viver por aí, dia e noite
correndo em alta velocidade, congestionando as avenidas dos pensamentos como
as outras palavras.
Acreditem ou Não, eu preciso desaparecer. Para que assim aconteça necessito de
êxito no meu “grand finale”, e, portanto, já iniciei os preparativos para tal
acontecimento, e se querem saber, essa preparação é excitante e me enche de
vida! Quero é partir, por inteiro.
Seria um desastre se o Não ficasse sem o "til", por exemplo.
Chega de Não... Não, Não e Não... Tenho Certeza que o meu fim será melhor
para todos.
Agora pensamento positivo e tudo sairá como planejei, e em breve já Não estarei
por aqui.
Sem dialogar com mais nenhuma das palavras amigas, mantive distância de
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