Revista LiteraLivre 3ª edição | Page 38

LiteraLivre nº 3 irmão, e foi todo aprumado em direção à porta. Antes de sair e temendo não saber o que dizer quando chegasse sozinho à barbearia, perguntou: - Paulo, o que eu digo ao Seu Alípio?! -Não fique avexado, oxe! É só chegar lá e falar que quer fazer o corte “americano”! Vá logo, ande! – respondeu Paulo. Aloísio passou pelo portão, todo garboso, metido num traje domingueiro, calças até o joelho, impecavelmente passadas a ferro pela mãe. Caminhava quase aos trotes, tamanha a pressa, e com as mãos nos bolsos, remexia alegremente a cédula de dinheiro, e o seu velho canivete, inseparável companheiro. Logo estava diante da barbearia. Cumprimentou Seu Alípio, e numa voz quase sumida disse a ele que queria cortar o cabelo, corte “americano”, conforme a orientação do irmão. Seu Alípio o colocou na velha poltrona, mas Aloísio era tão miúdo, tão apoucado no tamanho, que não conseguia se olhar no espelho colocado na parede de frente. A toalha fora colocada sobre os ombros, e Seu Alípio começou o preparo da tesoura. E, ao mesmo tempo em que começou a assobiar, iniciou também a dança das tesouradas. Era uma rapidez de movimentos que Aloísio ficou imobilizado. O medo de se mexer virou pânico quando ele pressentiu que, caso se movimentasse, poderia levar uma tesourada nas pontas das orelhas. Orelhas que, aliás, eram bem avantajadas, muito mais que o desejado... Aloísio, enquanto ouvia o assobio ininterrupto do Seu Alípio soar cada vez mais estridente, via os tufos de cabelos caindo da tesoura, passando pelo seu rosto, pelos seus ombros cobertos pela toalha, pelos braços, e se esparramando pelo chão. Estava em choque! De onde saía 32