LiteraLivre nº 3
irmão, e foi todo aprumado em direção à porta. Antes de sair e temendo
não saber o que dizer quando chegasse sozinho à barbearia, perguntou:
- Paulo, o que eu digo ao Seu Alípio?!
-Não fique avexado, oxe! É só chegar lá e falar que quer fazer o
corte “americano”! Vá logo, ande! – respondeu Paulo.
Aloísio passou pelo portão, todo garboso, metido num traje
domingueiro, calças até o joelho, impecavelmente passadas a ferro pela
mãe. Caminhava quase aos trotes, tamanha a pressa, e com as mãos
nos bolsos, remexia alegremente a cédula de dinheiro, e o seu velho
canivete, inseparável companheiro. Logo estava diante da barbearia.
Cumprimentou Seu Alípio, e numa voz quase sumida disse a ele
que queria cortar o cabelo, corte “americano”, conforme a orientação do
irmão.
Seu Alípio o colocou na velha poltrona, mas Aloísio era tão miúdo,
tão apoucado no tamanho, que não conseguia se olhar no espelho
colocado na parede de frente. A toalha fora colocada sobre os ombros, e
Seu Alípio começou o preparo da tesoura. E, ao mesmo tempo em que
começou a assobiar, iniciou também a dança das tesouradas. Era uma
rapidez de movimentos que Aloísio ficou imobilizado. O medo de se
mexer virou pânico quando ele pressentiu que, caso se movimentasse,
poderia levar uma tesourada nas pontas das orelhas. Orelhas que, aliás,
eram bem avantajadas, muito mais que o desejado...
Aloísio, enquanto ouvia o assobio ininterrupto do Seu Alípio soar
cada vez mais estridente, via os tufos de cabelos caindo da tesoura,
passando pelo seu rosto, pelos seus ombros cobertos pela toalha, pelos
braços, e se esparramando pelo chão. Estava em choque! De onde saía
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