LiteraLivre nº 3
rua, olhando pela transparência dos vitrais de um restaurante caríssimo,
dois homens conversavam sobre o mesmo assunto que eu converso
agora convosco. Um deles contando ao outro sobre a história daquele
trabalhador, descansando a cabeça na sua caixa de engraxar, ali no
canto duma calçada qualquer e a olhar o teto do seu lar a brilhar. Ao
final do conto, diante de seu prato que nem em uma garfada se
arranhara, a tristeza daquele ouvinte perguntou, baixinho, para a vida,
sobre o mérito dos que vivem. Mais que isso, indagou-a sobre o mérito
de quem trabalha e, além, clamou à Justiça. Ao passo que se a Justiça
tivesse boca, exclamaria:
- Há alguma coisa de errado aqui.
O teto do seu lar era no céu ao reluzir de qualquer estrela, o seu
despertador alguém que o chutava pela manhã, a sua educação
estampada não em títulos e sim no se abrir verdadeiro de alguns
sorrisos, o seu travesseiro um pedaço de madeira - mas os sapatos
estavam sempre limpos.
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