Revista LiteraLivre 3ª edição | Page 117

LiteraLivre nº 3 rua, olhando pela transparência dos vitrais de um restaurante caríssimo, dois homens conversavam sobre o mesmo assunto que eu converso agora convosco. Um deles contando ao outro sobre a história daquele trabalhador, descansando a cabeça na sua caixa de engraxar, ali no canto duma calçada qualquer e a olhar o teto do seu lar a brilhar. Ao final do conto, diante de seu prato que nem em uma garfada se arranhara, a tristeza daquele ouvinte perguntou, baixinho, para a vida, sobre o mérito dos que vivem. Mais que isso, indagou-a sobre o mérito de quem trabalha e, além, clamou à Justiça. Ao passo que se a Justiça tivesse boca, exclamaria: - Há alguma coisa de errado aqui. O teto do seu lar era no céu ao reluzir de qualquer estrela, o seu despertador alguém que o chutava pela manhã, a sua educação estampada não em títulos e sim no se abrir verdadeiro de alguns sorrisos, o seu travesseiro um pedaço de madeira - mas os sapatos estavam sempre limpos. 111