LiteraLivre nº 2
parábola do filho pródigo. Ela achou graça no poder da cachaça em
elevar as pessoas a Deus.
Pelo mesmo motivo de alto teor alcoólico, tio Machado era um dos
mais animados da viagem. Fazia estripulias no corredor, tal qual criança
em excursão da escola. O gringo da colônia falava alto, implicava com
todos e massacrava a letra erre. Um ser iluminado, por causa dos olhos
verdes brilhantes e a careca reluzente. Trajava camiseta de futebol de
listras azuis e brancas, desaparecidas no amontoado de cores berrantes
que exibiam o nome de patrocinadores famosos, como a ferragem
Ibirosca e a mecânica do Idalcir.
A turma se esbaldou em risadas quando Machado correu até a
traseira do ônibus em passos de balé, montou nas costas do Zé,
tropeçou no isopor e estatelou-se no chão, pernas ariadas, mãos na
buzanfa dolorida; gritou:
- Dio do céu, me ajunta, carralho!
E foi então que o menino Bento leu nas costas da camiseta
multicolorida o nome Mampituba F.C., e depois de uma gargalhada
gostosa, perguntou à mãe onde ficava aquele lugar, pois imaginou que lá
todas as pessoas seriam felizes. E ficou tão encantado com as
palhaçadas do tio Machado, tão maravilhado com Mampituba, que
associou uma coisa a outra, e dizia que o tio Machado era Mampi, e de
que tudo o que gostava era Mampi: os carrinhos Hot Wheels, a bicicleta
amarela, o picolé Chicabon. Por isso, a escolha do nome do cachorrinho
da marca linguicinha presenteado no aniversário: Mampituba.
Jamais se viu Bento afeiçoar-se a um bichinho tal qual aconteceu
com Mampi. Conexão imediata, nascidos um para o outro, que nem
54