Revista LiteraLivre 2ª Edição | Page 60

LiteraLivre nº 2 parábola do filho pródigo. Ela achou graça no poder da cachaça em elevar as pessoas a Deus. Pelo mesmo motivo de alto teor alcoólico, tio Machado era um dos mais animados da viagem. Fazia estripulias no corredor, tal qual criança em excursão da escola. O gringo da colônia falava alto, implicava com todos e massacrava a letra erre. Um ser iluminado, por causa dos olhos verdes brilhantes e a careca reluzente. Trajava camiseta de futebol de listras azuis e brancas, desaparecidas no amontoado de cores berrantes que exibiam o nome de patrocinadores famosos, como a ferragem Ibirosca e a mecânica do Idalcir. A turma se esbaldou em risadas quando Machado correu até a traseira do ônibus em passos de balé, montou nas costas do Zé, tropeçou no isopor e estatelou-se no chão, pernas ariadas, mãos na buzanfa dolorida; gritou: - Dio do céu, me ajunta, carralho! E foi então que o menino Bento leu nas costas da camiseta multicolorida o nome Mampituba F.C., e depois de uma gargalhada gostosa, perguntou à mãe onde ficava aquele lugar, pois imaginou que lá todas as pessoas seriam felizes. E ficou tão encantado com as palhaçadas do tio Machado, tão maravilhado com Mampituba, que associou uma coisa a outra, e dizia que o tio Machado era Mampi, e de que tudo o que gostava era Mampi: os carrinhos Hot Wheels, a bicicleta amarela, o picolé Chicabon. Por isso, a escolha do nome do cachorrinho da marca linguicinha presenteado no aniversário: Mampituba. Jamais se viu Bento afeiçoar-se a um bichinho tal qual aconteceu com Mampi. Conexão imediata, nascidos um para o outro, que nem 54