LiteraLivre nº 2
arroz com feijão, churrasco e salsichão. Mampi assumiu o posto de bebê
da casa; um ser que exalava amorosidade nas sobrancelhas arqueadas,
com manchas brancas adornadas pelos olhos cor de mel e alegria no
rabo acelerado ao festejar a família.
Ela
trocava
olhares
profundos
com
o
cachorrinho,
ficava
imaginando os pensamentos daquela criaturinha de Deus. O marido não
a olhava daquele jeito; só quando bebia e queria cuchi cuchi −
desdenhou.
O gurizinho cresceu, e Mampi envelheceu. Na verdade, já nasceu
velho, com a sabedoria de quem tem compaixão por todo o tipo de
gente. Bento transformou-se num adolescente retraído, cibernético, um
replicante de Blade Runner. Usava o termo “legal” em profusão para
denominar o que gostava, não gostava, ou achava mais ou menos. A
palavra o mantinha unido ao mundo dos adultos, principalmente ao da
mãe. A tudo o que ela perguntava, ele formatava no disco rígido e emitia
um simples “legal”.
Por sorte, o universo Mampi permaneceu intacto: bastava receber
os refestelamentos do Mampituba para se abrir em sorrisos e gracejos.
Mampi possuía esse poder.
Saiu para caminhar, para fazer vento. Sentiu saudades dos
passeios, das amigas e seus maridos beberrões. O marido dela também
foi caminhar, para sempre. Teve que admitir, Idalcir enchia a casa de
barulhos; não precisava de grandes motivos para as churrascadas com a
turma do busão. Ele bem que tentou:
– Quero envelhecer contigo.
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