LiteraLivre n º 1
cadeira e descansou a cabeça em seu ombro , roçando-lhe o pescoço e rosto ásperos da barba que crescia com o seu próprio pescoço e rosto bem barbeados e frescos da loção do outro , que sempre roubava , enquanto lhe fazia um cafuné divertido no topo da cabeça , baguncinha nos cabelos , rindo , esfregando no outro o seu cheiro de banho e roupa nova .
Rearrrancado de sua imersão , sentindo Henrique tão próximo , irremediavelmente próximo , irremediavelmente arrancado , Marcos virou-se rindo também e o beijou . Beijou aquele cheiro , aquela juventude , aquela pausa , aquele oásis . As mãos ainda mergulhadas nos cabelos do namorado , Henrique suspirou . De carinho , de conforto , de ...? Suspirou . Marcos não ouviu o suspiro ; ouviu o outro , brincalhão : Desta interrupção você não reclama , não é ?! Beijou-o mais , beijaram-se , com mais intensidade . O cigarro extinguiu-se no cinzeiro e o relógio do computador marcava agora dez e trinta e oito .
Henrique deixou a porta do escritório aberta , para que o silêncio do apartamento inundasse todos os espaços . Saiu pela porta da cozinha , de onde podia descer as escadas correndo como gostava . Marcos não ouviu a porta bater . Ouviu " te amo ". Antes mesmo de começar a descer velozmente as escadas , um alarme de carro disparou mas Henrique teve a certeza de ter ouvido perfeitamente o " também te amo " na voz de Marcos . Sorriu pensando na volta , no amor de noite , tão sôfrego e tão calmo . Brincariam com gelo , Marcos adorava . Conheciam-se e amavam-se profundamente .
http :// www . germinaliteratura . com . br / 2016 / thassio _ ferreira . htm
49