LiteraLivre nº 1
clarões em todos os lados, barulho de vento e de trovão junto, saca? Assustador, mas não
pra mim, que sempre curti a natureza. Eu falei pros outros: vamos? Ninguém quis, tavam
tudo com medo, imagina, a única chance de ser livre de vez e eles amarelavam. Ficaram
tudo abaixado, rente ao chão, com cagaço mesmo.
Saí na minha, nem troquei ideia mais, sem tchau, sabia que minha hora ali tinha
acabado.
Fui no galeto até aquela floresta, passei pelo campo, o vento ia comigo, tava no
maior gás, a sensação foi demais, tipo assim, ali eu tava vivo, pela primeira vez, depois
de três anos.
Dentro da mata começou a chuva. Aquele shhhhhhh. Folha tremendo, caindo, foi
demais. Adoro água, mas nunca tinha visto ela com uma cor tão bonita, mistura do verde
das folhas com o branco da água. Nunca tinha visto a terra tão lavada, saca? Na minha
prisão, que aquilo era uma prisão, descobri assim que saí, a grama não deixava a terra
fofa daquele jeito, meus dois dedos tavam afundando, era demais.
Bati um bode ali mesmo, quando acordei tava escuro, mas não de chuva, da noite.
Tinha estrela, muitas, resolvi sair da mata, ver as estrelas diretamente, sentir a energia
sem a cortina das copas, me energizar com os astros pela primeira vez como um avestruz
livre.
Quando saí da mata, bum, caí aqui, saca? Passaram três noites já. Não sei por que
tava aqui esse buraco esquisito.
- Cara, culpa dos caras que você chamou de caras de chapéu, vão fazer uma
piscina, tendo um riacho logo ali, muito capitalismo.
Bom, parece que eles venceram, mas não, fui livre, livre por umas horas, mas foi
bom, vivi e morri na minha liberdade, aprendi que viajar sozinho é o que há. Hoje pouco
de nós sabemos como é isso, foi um privilégio.
Você vai me reciclar?
- Claro. E prometo que não vou capitalizar, cada pena que eu tirar – vai dar uma pá
de brinco –e esses brincos não vou aceitar o monetário, ou troco por comida, ou dou pros
malucos que têm astral livre, como eu e tu.
Fechado, assim minha liberdade continua, nas BR’s da vida, pedalando com os
malucos. Liberdade em vida, liberdade na morte, liberdade depois de morto, saca?
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