Revista LiteraLivre 1ª Edição | Page 51

LiteraLivre nº 1 clarões em todos os lados, barulho de vento e de trovão junto, saca? Assustador, mas não pra mim, que sempre curti a natureza. Eu falei pros outros: vamos? Ninguém quis, tavam tudo com medo, imagina, a única chance de ser livre de vez e eles amarelavam. Ficaram tudo abaixado, rente ao chão, com cagaço mesmo. Saí na minha, nem troquei ideia mais, sem tchau, sabia que minha hora ali tinha acabado. Fui no galeto até aquela floresta, passei pelo campo, o vento ia comigo, tava no maior gás, a sensação foi demais, tipo assim, ali eu tava vivo, pela primeira vez, depois de três anos. Dentro da mata começou a chuva. Aquele shhhhhhh. Folha tremendo, caindo, foi demais. Adoro água, mas nunca tinha visto ela com uma cor tão bonita, mistura do verde das folhas com o branco da água. Nunca tinha visto a terra tão lavada, saca? Na minha prisão, que aquilo era uma prisão, descobri assim que saí, a grama não deixava a terra fofa daquele jeito, meus dois dedos tavam afundando, era demais. Bati um bode ali mesmo, quando acordei tava escuro, mas não de chuva, da noite. Tinha estrela, muitas, resolvi sair da mata, ver as estrelas diretamente, sentir a energia sem a cortina das copas, me energizar com os astros pela primeira vez como um avestruz livre. Quando saí da mata, bum, caí aqui, saca? Passaram três noites já. Não sei por que tava aqui esse buraco esquisito. - Cara, culpa dos caras que você chamou de caras de chapéu, vão fazer uma piscina, tendo um riacho logo ali, muito capitalismo. Bom, parece que eles venceram, mas não, fui livre, livre por umas horas, mas foi bom, vivi e morri na minha liberdade, aprendi que viajar sozinho é o que há. Hoje pouco de nós sabemos como é isso, foi um privilégio. Você vai me reciclar? - Claro. E prometo que não vou capitalizar, cada pena que eu tirar – vai dar uma pá de brinco –e esses brincos não vou aceitar o monetário, ou troco por comida, ou dou pros malucos que têm astral livre, como eu e tu. Fechado, assim minha liberdade continua, nas BR’s da vida, pedalando com os malucos. Liberdade em vida, liberdade na morte, liberdade depois de morto, saca? 46