Revista LiteraLivre 1ª Edição | Page 40

LiteraLivre nº 1 zeloso, e me acomodou da melhor e mais segura forma possível na garupa de sua moto. Eu me sentia inadequada e apreensiva enquanto a moto traçava um caminho que nunca antes percorri, mas pouco depois parou. Chegamos. A casa dele. O mundo dele. Eu entrei ali para ficar. E nascia ali aquela rotina confortável: refeições compartilhadas na noite (o peixe que ele me preparava era meu preferido), minha diária e agitada espera pelo seu retorno do trabalho, quando muitas vezes ele me trazia um mimo (mimos que quase me divertiam quando das horas solitárias no apartamento pequeno)... Logo na primeira semana, ele ornou meu pescoço com um lindo colar; eu não era especialista em joias, mas aquela gargantilha com meu nome gravado me parecia linda, cara de afeto e deixava explícita que a ele eu pertencia. E declaro, sem pudor, que adorava esse sentimento inédito de pertencimento a alguém, e essa certeza continha em si um bálsamo para todas as privações que eu deixara para trás. Já estamos juntos há alguns anos e ainda não me cansei de me aconchegar toda noite em sua cama e calor, confortando-me no seu cheiro almiscarado, enquanto aguardo um afago antes que ele durma, sereno. Acordo cotidianamente antes dele, e vigio seu despertar, quando então ele me dirigirá aquele afetuoso bom dia, e eu, sempre dissilábica, retrucarei: “miau”… 35