Revista LiteraLivre 1ª Edição | Page 13

LiteraLivre nº 1 obviamente, estranharam esse comportamento de resistência e aprisionamento de si mesma. Porque, ao não se importar mais em se fazer ouvir, ninguém mais sabia como acessá-la. Os dias se tornaram mais silenciosos, solitários e menos inesperados. Perdeu-se o decifrar e até o humor encoberto que pairava ao redor daquelas palavras ininteligíveis. E eis que o mundo que a cercava calou-se junto com a garota. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Não, assim, já era demais! Tudo bem ela não falar, mas ninguém mais??? Não, isso não estava certo. Foi o que ela pensou ao olhar para cima, para os lados, para frente e para trás e enxergar todos tão aborrecidos, lastimando a transformação da criança, de barulhenta para taciturna. – Ei, vocês! Parem com isso! Ninguém mais vai conversar comigo? Silêncio. Silêncio. Silêncio. – Ora bolas! Como se fizesse algum sentido o que estou dizendo! Os rostos e expressões de todos próximos a ela denunciavam: o que fluía dela tinha sentido sim. Naquela hora, a menininha sem palavras dava lugar à chefe interina das orações e não havia pessoa no mundo que não distinguisse cada letrinha de suas sentenças. E eis que, desse dia em diante, qualquer um, vindo inclusive de terras distantes, vinha curvar-se diante dela e ouvir o que a voz mágica da pequena dona do verbo tinha a manifestar. https://papodefran.com/ 8