LiteraLivre nº 1
obviamente, estranharam esse comportamento de resistência e aprisionamento de si
mesma. Porque, ao não se importar mais em se fazer ouvir, ninguém mais sabia como
acessá-la.
Os dias se tornaram mais silenciosos, solitários e menos inesperados. Perdeu-se o
decifrar e até o humor encoberto que pairava ao redor daquelas palavras ininteligíveis. E
eis que o mundo que a cercava calou-se junto com a garota.
Silêncio. Silêncio. Silêncio. Não, assim, já era demais! Tudo bem ela não falar, mas
ninguém mais??? Não, isso não estava certo. Foi o que ela pensou ao olhar para cima,
para os lados, para frente e para trás e enxergar todos tão aborrecidos, lastimando a
transformação da criança, de barulhenta para taciturna.
– Ei, vocês! Parem com isso! Ninguém mais vai conversar comigo?
Silêncio. Silêncio. Silêncio.
– Ora bolas! Como se fizesse algum sentido o que estou dizendo!
Os rostos e expressões de todos próximos a ela denunciavam: o que fluía dela
tinha sentido sim. Naquela hora, a menininha sem palavras dava lugar à chefe interina
das orações e não havia pessoa no mundo que não distinguisse cada letrinha de suas
sentenças.
E eis que, desse dia em diante, qualquer um, vindo inclusive de terras distantes,
vinha curvar-se diante dela e ouvir o que a voz mágica da pequena dona do verbo tinha a
manifestar.
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