LiteraLivre Vl. 4 - nº 19 – Jan./Fev. de 2020
Guilherme Hernandez Filho
Santos/SP
Serendipite
Cada vez que vejo a folha em branco, pedindo minha tinta, reflito se valerá a
pena. Não que eu não queira, estou aqui pra isto. Escrever é preciso, mas e a
inspiração virá?
Nalguns dias me pego fitando o papel, esperando que ele me diga por onde
começar. Noutros começo eu e ele me conduz. Sigo o que ele mandar. Nestes
casos nunca sei para onde seguiremos, nem aonde chegaremos.
Minha vontade é dialogar com a folha, como se fosse você, leitor. Quantas
vezes o alento vem como num amanhecer, pleno de luz e de novas ideias. É
como acordar numa manhã ensolarada. As palavras começam a surgir, progredir
e a fazer sentido. O enredo vai nascendo e é uma provocação, uma excitação,
um despertar artístico. É sair da letargia para comunicar os pensamentos, mas
pode-se também, já ao final do texto, se decidir que nada daquilo faz sentido,
sendo o papel amarfanhado e jogado ao cesto, para fazer companhia a outros
tantos descartados.
Ocasionalmente até penso em desistir de um texto, em meio à sua escrita,
mas uma reordenação das sentenças, e a construção de novos pensamentos, faz
com que parágrafos inteiros sejam reescritos.
Personagens surgem e desaparecem conforme nossa vontade. Ficam aqueles
pelos quais temos mais simpatia e descartam-se os de quem não gostamos. Não
importa seu sexo, sua idade, seu tipo físico, um bom personagem é como um
amor: tem que ser correspondido.
Conflitos vão sendo armados e a teia que vai capturar a atenção do leitor
está urdida.
Redigir um bom texto literário é sempre um serendipite.
[80]