LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019
de alguma forma a malha do espaço tempo tornando-me capaz de interagir com
objetos a distância como um efeito quântico a olho nu no mundo macro. Tudo era
‘um’ ainda que anomalias sentidas como o sofrimento e o caos desvelassem um
embate entre forças antagônicas. Ouvia dentro de mim pensamentos alheios,
intensões e as conclusões do meu estudo sobre a neurocaína indicavam que as
circunstâncias acrescidas a ela forjaram minha condição única no mundo onde
estava só. Mas agora compreendia que mesmo o acidente não era fruto do acaso,
mas uma permissão do destino afim de atingir aquele ponto do qual passei a
contemplar o tempo de fora do tempo, como um todo continuo onde a
indiferença entre passado, presente e futuro eram denotados apelas pela
perspectiva do momento. Sentia-me como se as moléculas as quais constituíam
meu corpo vibrassem gradualmente em frequências diferentes e minha
consciência passasse a integrar o todo.
Fora assim que percebi como o salto qualitativo de minha evolução mental
se deu por estágios cada qual formando por características próprias até atingir a
transcendência do intangível.
Os especialistas agora em polvorosa ao notar que parecia transcender o
tempo comum do agora tentaram postular uma última tentativa desesperada de
mensurar-me, da minha inteligência a condição neurológica. Mas a essa altura
meu cérebro interferia na máquina da ressonância magnética e mesmo o mais
elaborado teste de inteligência que se utilizava de criptografia dentre outras
coisas era capaz de delimitar minha mente.
Não sentia mais necessidade de dormir, passava horas lendo livros numa
velocidade vertiginosa quando não conseguia prever tudo que iria ler na minha
mente que parecia agora trabalhar em múltiplas dimensões para compreender
variáveis de coisas que pressentia, mas não fazia. Fora então naquele dia que ao
sentir meu filho vindo para casa ele entrou preocupado que soube que minha
hora chegara, minha mente libertou-se da matéria espontaneamente como
informação pura. Não deixei corpo para o velório e minha consciência estava
agora em todo lugar como se ao romper a barreira da velocidade da luz me
tornasse onipresente fitando não somente o presente, mas todo passado e futuro
o qual as fronteiras inexistem a não ser no termo e onde não mais havia
fronteiras físicas. Eu era a própria informação do universo e o que era a tolice do
poder senão a vã tentativa de organizar dados a seu bel prazer para domínio
próprio sobre terceiros? Não mais importava gênero sexual, cor ou tamanho
quando se conhece a essência inerente a aparência onde apenas há dados e
intenções puras sem distorções da hipocrisia ou aparência.
Fitei sem olhos o começo de tudo e a grande queda final do universo num
evento cataclísmico que convergia não somente o espaço, mas o tempo a sua
direção, vi cada felicidade e sofrimento e a luta antagônica entre forças que
disputavam a alma humana que era exatamente isso, informação. Como era
simplória, fútil e insignificante a maldade e corrupção!
http://filoversismo.blogspot.com/
[209]