Revista LiteraLivre 18ª edição | Page 195

LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019 Tatianny Cristina Gosuen de Souza Uberlândia/MG O lado de cima da Cama O bicho-papão já está aqui... E ele olha diretamente para mim. Eu sinto o hálito quente e úmido, as nuvenzinhas de sua respiração abafada preenchendo o ar. Tão perto de mim, tão perto que mal consigo respirar... Cubro-me mais com o cobertor. Não ouso respirar, ou sequer me mexer. A dor vem mais uma vez. Vejo seus dentes abertos e salivando. Seus olhos revirados, suas mãos grandes e pesadas, suas unhas de monstro manchando a minha pele. Tento manter os olhos abertos, a mente acordada, mas o cansaço é maior que eu, e o pesadelo vem sem avisar. Não tenho mais voz para gritar, ela já foi há muito tempo engolida pela escuridão. Reúno as minhas forças, porém a dor começa a ficar grande demais, insuportável... Aquela, afinal, já não era a primeira vez. Encolho-me no lugar onde estou, já sem forças mais. No fim, perco a consciência. Acordo coberto de suor. Estou sozinho na escuridão. Espero um minuto, sem sequer me mexer. Por fim, crio coragem e olho em volta, tocando com cuidado as sombras ao meu redor. No fim, estou vivo mais uma vez. Saio do lugar apertado de onde estou. Levanto-me, acendo a luz do quarto e observo minha pequena figura diante do espelho. Vejo meu corpo, minha pele, meus cabelos, mas tem algo errado... Será que sou realmente eu ali? Meus olhos estão tristes, cansados e vermelhos. Meu corpo treme. Lágrimas começam a escapulir mais uma vez. [192]