LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019
Tatianny Cristina Gosuen de Souza
Uberlândia/MG
O lado de cima da Cama
O bicho-papão já está aqui...
E ele olha diretamente para mim.
Eu sinto o hálito quente e úmido, as nuvenzinhas de sua respiração abafada
preenchendo o ar. Tão perto de mim, tão perto que mal consigo respirar...
Cubro-me mais com o cobertor. Não ouso respirar, ou sequer me mexer. A
dor vem mais uma vez.
Vejo seus dentes abertos e salivando. Seus olhos revirados, suas mãos
grandes e pesadas, suas unhas de monstro manchando a minha pele.
Tento manter os olhos abertos, a mente acordada, mas o cansaço é maior
que eu, e o pesadelo vem sem avisar.
Não tenho mais voz para gritar, ela já foi há muito tempo engolida pela
escuridão. Reúno as minhas forças, porém a dor começa a ficar grande demais,
insuportável... Aquela, afinal, já não era a primeira vez.
Encolho-me no lugar onde estou, já sem forças mais.
No fim, perco a consciência.
Acordo coberto de suor. Estou sozinho na escuridão. Espero um minuto,
sem sequer me mexer. Por fim, crio coragem e olho em volta, tocando com
cuidado as sombras ao meu redor.
No fim, estou vivo mais uma vez.
Saio do lugar apertado de onde estou. Levanto-me, acendo a luz do quarto
e observo minha pequena figura diante do espelho. Vejo meu corpo, minha pele,
meus cabelos, mas tem algo errado... Será que sou realmente eu ali?
Meus olhos estão tristes, cansados e vermelhos. Meu corpo treme.
Lágrimas começam a escapulir mais uma vez.
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