Revista LiteraLivre 18ª edição | Page 196

LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019 Ainda não amanheceu, mas me esforço para voltar para debaixo da cama, para o único lugar que parece seguro ali dentro. Estou quase pegando no sono quando a porta se abre de repente e escuto novamente a sua voz: — Lucas, onde você está? É hora de brincar... Sinto minha pele arrepiar. Meu coração quase sai da boca. — Ontem a escola ligou... Você não tem muitos amigos, né? Sei que você também tirou notas ruins na prova, mas eu não me importo com nada disso. Saiba que o papai sempre irá cuidar de você... Engulo em seco. A voz tem mesmo razão. Eu já não consigo ter mais tantos amigos assim... Ninguém quer ser amigo de um menino triste, afinal. O monstro vem, vem para perto de mim. Corro para fugir do bicho-papão, mas sua figura já conseguiu me alcançar. Agora já era tarde demais. Mais uma vez não venci aquela luta. Reúno todas as minhas forças para gritar, no entanto meus lábios mal se abrem quando aquela mão áspera e pesada cobre minha boca mais uma vez. Mãos grandes, mãos de um monstro, afinal. Fecho os olhos, finjo que estou quase dormindo. Finjo que estou embaixo da cama, seguro e protegido, envolvido no meu cobertor preferido. Finjo que não sou eu ali. Escuto os sons, sinto seu hálito quente e úmido, as nuvenzinhas de sua respiração abafada preenchendo o ar... Tão perto de mim, tão perto que mal consigo respirar... Algo está acontecendo, algo está me devorando mais uma vez... De repente, sinto suas unhas afiadas marcarem a minha pele novamente. Sinto tudo arder, doer. Tento fechar os olhos, mas agora já não consigo mais. Meus olhos encaram diretamente o pesadelo... Sim, Tem um monstro do lado de cima da minha cama. [193]