Revista LiteraLivre 18ª edição | Page 173

LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019 Raimundo Nogueira Soares Curitiba/PR Remi Era uma vez 11 garotos que gostavam de jogar futebol. Uns eram bons de bola, outros nem tanto. Mas todos eles gostavam de futebol. Gostavam, não. Eles amavam jogar futebol. Quando eram pequenos, não podiam usar o campo do time da cidade. Então, o jeito era improvisar. Jogavam na grama em frente da casa de um deles (de preferência, o que tinha a mãe menos brava), nos quintais, nas calçadas. Também faziam suas peladas na rua mesmo, na terra. No lugar das traves eles punham pedras ou chinelos. E ali disputavam o jogo da vida. Só iam para casa quando as mães ou os irmãos mais velhos vinham lhes buscar, estes com autorização para dar um coro nos que não obedecessem. Foram crescendo. Depois de certa idade, passaram a disputar as partidas no campo de terra do Ideal Esporte Clube. Agora já tinham as traves, parecia um jogo de verdade. E ficavam jogando desde a hora que paravam de trabalhar ou estudar até que o último raio de sol sumisse no horizonte. Jogando suas peladas, brigando de vez em quando, os meninos eram felizes. Todas as tardes, brincando de “dupla”, “gol a gol” “tira-tira” ou fazendo o “rachão” (dependia da quantidade de atletas disponíveis), eles eram felizes. Mas faltava uma coisa: o adversário. Eles não tinham uniformes, nem míseras camisas para representar o Ideal. Mas já se sentiam um time. E precisavam arrumar outra equipe para disputarem uma partida de futebol, valendo troféu. Conversando no grupo escolar, acharam o adversário. Seria o time da fazenda de um dos alunos. Sob orientação dos adultos, trocaram ofícios para sacramentar o compromisso. Seria no domingo seguinte, no campo da fazenda. Ansiosos por jogar a primeira partida de suas vidas, os meninos esqueceram um detalhe: como iriam até o campo de jogo, distante mais de uma légua? Pediram ajuda aos adultos. Ninguém podia levar os garotos, que não tinham dinheiro nem para pagar o combustível do caminhão (sim, os times de futebol viajavam em carroceria de caminhão). Chegou o dia. Uns meninos foram de bicicleta, outros a cavalo. A maioria, porém, não dispunha desses luxos, e foi a pé mesmo. Os adversários eram filhos, parentes e empregados da fazenda. Naquela manhã, estavam de folga para a disputa da taça. [170]