LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019
Ao lado da corsa, estavam dois filhotes.
Bremmer não podia. Este feito iria contra suas leis, contra as leis da
Grande Mãe, pois matando aquela corsa, mataria também os filhotes.
De olhos fechados, cerrou os dentes. Em sua mente um dilema o consumia.
Abriu novamente os olhos e avistou dois caçadores de um clã rival, preparando-
se para abater o animal.
Sem pensar nas consequências Bremmer lançou-se gritando, de arco em
punho, na direção dos guerreiros, que naquele momento lhe desferiram a
flechada, antes destinada à corsa. No furor da situação, um emaranhado de
corpos atracados rolou barranco abaixo, arrastando Bremmer e a corsa para
dentro de uma armadilha, um buraco profundo escondido no meio da floresta.
Ferido e cansado, Bremmer tentou, sem sucesso, escalar as paredes
escorregadias daquela cova. Surgiu-lhe então a ideia de subir no animal a fim de
alcançar o topo, porém na borda do buraco espreitavam os filhotes da corsa,
desesperados para novamente juntar-se à mãe. Naquele momento Bremmer
percebeu que só havia chance para um.
E mais uma vez seu destino de deparou com o da corsa, e o dilema
novamente o fez pensar. Sentado no fundo daquele buraco, Bremmer fitou os
filhotes do lado de fora, em seguida olhou para a corsa - que assustada e
ofegante retribui-lhe o olhar. E então depois de um longo suspiro Bremmer disse
para a corsa.
- Arrisquei minha vida para te salvar da primeira vez, e não vou te deixar
morrer aqui.
Neste momento o guerreiro concentrou toda força que lhe restara, no
interior de seu ventre. Com um grito gutural agarrou o animal empurrando-o
para cima e enfim o lançando para fora, sem perceber, porém, que durante a
subida os cascos do animal feriram seu corpo, dilacerando a carne.
Esfacelado em sangue, Bremmer caiu sobre suas pernas; suas últimas
forças haviam partido juntamente com a corsa.
Jogado no fundo daquele buraco, o guerreiro regozijava-se de seu feito ao
mesmo tempo em que uma profunda tristeza lhe invadia o coração. Sua noiva,
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