Revista LiteraLivre 18ª edição | Page 167

LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019 seu clã, seu fracasso, e pediu então à Grande Mãe que escolhesse um guerreiro honrado para substituí-lo. Neste momento, uma tempestade se formou e soprando forte cobriu de folhas o seu corpo ferido - as mesmas folhas que há pouco haviam lhe abençoado – e então percebe que, mais uma vez, está aos pés de um velho carvalho. Percebe também que a corsa ainda o observa, e em seu delírio ela chora pesadas lágrimas, que escorrem juntamente com a chuva lavando seu corpo. Com um enorme estrondo, um raio cai sobre a árvore, partindo-a ao meio, estremecendo e clareando toda a terra. O guerreiro percebe que é chegada sua hora e sem forças entrega-se ao sono da morte. Seus olhos semicerrados enevoavam a lembrança das paisagens, tal como brumas que cobrem um lago pela manhã. O som da chuva caindo se torna tão abafado quanto a onomatopeia de um mergulho. Sente então seu espírito leve e aquecido flutuando pela floresta e finalmente o beijo doce e suave da Grande Mãe, agradecendo-lhe. Como último esforço o guerreiro abriu os olhos. Ao seu lado, estava sua amada. Confuso olhou para seu corpo e viu que, no lugar dos cortes, magníficos desenhos em forma de animais lhe cobriam a pele. Caiu de joelhos pedindo perdão por ter falhado e não ter honrado o casamento com a grande caça. Aunya sorriu com doçura. Agradecendo pela humildade do futuro marido e revelou: - Em meio a tempestade, a Grande Mãe enviou-nos um sinal que cortou o céu e mostrou-nos o caminho. Os guerreiros seguiram o sinal e chegaram até você, que aos pés do velho Carvalho descansava, junto dos dez javalis que caçou. Bremmer contou sua história, e daquele dia em diante, naquela tribo, todo ato de bravura passou a ser gratificado com adornos na pele, iguais aos que Bremmer havia ganhado da Grande Mãe. Pequenos desenhos, sagrados troféus, mostrando que naquele corpo reside o espírito de um grande e honrado guerreiro. [164]