LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019
seu clã, seu fracasso, e pediu então à Grande Mãe que escolhesse um guerreiro
honrado para substituí-lo.
Neste momento, uma tempestade se formou e soprando forte cobriu de
folhas o seu corpo ferido - as mesmas folhas que há pouco haviam lhe abençoado
– e então percebe que, mais uma vez, está aos pés de um velho carvalho.
Percebe também que a corsa ainda o observa, e em seu delírio ela chora pesadas
lágrimas, que escorrem juntamente com a chuva lavando seu corpo.
Com um enorme estrondo, um raio cai sobre a árvore, partindo-a ao meio,
estremecendo e clareando toda a terra. O guerreiro percebe que é chegada sua
hora e sem forças entrega-se ao sono da morte. Seus olhos semicerrados
enevoavam a lembrança das paisagens, tal como brumas que cobrem um lago
pela manhã. O som da chuva caindo se torna tão abafado quanto a onomatopeia
de um mergulho. Sente então seu espírito leve e aquecido flutuando pela floresta
e finalmente o beijo doce e suave da Grande Mãe, agradecendo-lhe. Como último
esforço o guerreiro abriu os olhos. Ao seu lado, estava sua amada.
Confuso olhou para seu corpo e viu que, no lugar dos cortes, magníficos
desenhos em forma de animais lhe cobriam a pele. Caiu de joelhos pedindo
perdão por ter falhado e não ter honrado o casamento com a grande caça.
Aunya sorriu com doçura. Agradecendo pela humildade do futuro marido e
revelou:
- Em meio a tempestade, a Grande Mãe enviou-nos um sinal que cortou o
céu e mostrou-nos o caminho. Os guerreiros seguiram o sinal e chegaram até
você, que aos pés do velho Carvalho descansava, junto dos dez javalis que
caçou.
Bremmer contou sua história, e daquele dia em diante, naquela tribo, todo
ato de bravura passou a ser gratificado com adornos na pele, iguais aos que
Bremmer havia ganhado da Grande Mãe. Pequenos desenhos, sagrados troféus,
mostrando que naquele corpo reside o espírito de um grande e honrado
guerreiro.
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